Em sua última coluna de 2004, o editor público do New York Times, Daniel Okrent, conta que pensava em fazer um texto sobre várias falhas que haviam sido cometidas no jornal ao longo do ano que ele não mencionara anteriormente por falta de oportunidade. No entanto, ao ler uma matéria da repórter Robin Toner, mostrando os efeitos que a reeleição de George W. Bush poderia ter sobre a legislação de abortos, o ombudsman mudou de idéia e resolveu fazer algo mais de acordo com esta época do ano. Apesar de não ser perfeito, o texto mostrava, sem eufemismos, qual é a natureza das mudanças que podem ser aprovadas na lei e dava espaço justo para que representantes dos dois lados da questão – contra e a favor – expusessem suas opiniões. Uma matéria simples, porém bem-feita, como tantas outras que saem no Times.
Okrent observa que o diário consegue trazer em suas páginas muito conteúdo de boa qualidade, como, por exemplo, os relatos de Dexter Filkins sobre os combates em Fallujah e a reportagem de C. J. Chivers sobre o assassinato de inocentes na cidade russa de Beslan. No entanto, o que o editor público procura destacar é que, além de fazer um bom trabalho no que se refere ao acompanhamento do cotidiano, The New York Times tem adotado algumas medidas internas que servirão para torná-lo ainda melhor.
A primeira citada por Okrent é que o cargo de editor público ganhou caráter definitivo e o próximo a ocupá-lo terá um mandato mais longo que o de 18 meses conferido a ele, em caráter experimental. Além disso, foi adotada uma política de publicação de erratas para textos opinativos, algo que não existia. E, a julgar pelas poucas reclamações recebidas pelo ombudsman, os editoriais e artigos de opinião devem estar saindo com bem menos erros que antes.
Na editoria científica, está-se tentando instituir a prática de mencionar qualquer conflito de interesse envolvendo as fontes das matérias. O diário como um todo ainda precisa diminuir a quantidade de menções a fontes anônimas, mas já houve uma melhora no sentido de que elas já não são mais usadas tão em vão quanto antes. Finalmente, o Times está assumindo que os americanos não pensam todos como os liberais nova-iorquinos e resolveu colocar o repórter David Kirkpatrick na editoria de política para dar voz aos setores mais conservadores da sociedade. Okrent afirma estar convencido de que esta editoria está fazendo um esforço para revisar as matérias à procura de conteúdo tendencioso.