Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Escolha seu número

Foi logo no primeiro dia da grande tragédia asiática: a Folha de S.Paulo dava 12 mil mortos e o Estado de S.Paulo, 11 mil. Mil mortos de diferença, quem se importa?

O número, infelizmente, foi muito maior (segundo um grande jornal, ‘amanhã vai chegar a 41 mil’). Mas nenhum dos grandes jornais empatou com o outro: embora as fontes sejam as mesmas, a internet e as agências internacionais, os resultados, por algum motivo, são diferentes.

E não são diferentes apenas nos números da tragédia: a Gazeta Mercantil e a Rede Globo falaram num grande Natal de vendas, a Folha diz que o varejo esperava uma alta que não ocorreu. Segundo a Globo, foi o melhor Natal desde 1996; segundo a Folha, o sexto melhor nos últimos dez anos. Não bate – e a fonte de todos é a mesma, o presidente da Associação Comercial de São Paulo, Guilherme Afif Domingos. O almoço em que as informações foram divulgadas também era o mesmo. E os números? Bom, cada um tinha o seu. A Globo fala em 15% de aumento nas vendas; a Folha, em 6,1%. (A propósito, conversando com jornalistas que trabalham na área, eles não concordam com nenhum dos números).

No caso dos números do Natal, sempre poderia haver a interpretação de que oscilam de acordo com a variação do humor dos jornais com relação ao governo. Mas na tragédia não conta a simpatia pelo governo. O que há, simplesmente, é que alguém – ou todos – está errando nas contas.



Abutere patientia nostra

Está escrito, sim: não é piada. Segundo um grande jornal, no futebol os latinos reinam. Até aí, tudo bem. Mas vem o complemento: ‘enquanto os homens de países que falam a língua confirmam em 2004 sua superioridade (…)’. Enfim, caro colega, aprenda: os melhores jogadores do mundo são os que falam latim. Se o jornal diz, é verdade. Talvez não seja bem o latim; mas, num cantão suíço, fala-se romanche, que é a coisa mais parecida com latim existente hoje no mundo. Cintura dura, nada! Suíço bate um bolão!



Da imprensa

** No rali Paris-Dacar, diz a imprensa, surge um Pajero feito de materiais leves, como fibra de carbono e kevlar. Seu peso final seria de 1,8 tonelada, ‘metade de um Fiat Uno Mille’. A notícia deve referir-se ao Fiat Mille. E 1,8 tonelada é o dobro do peso de um Mille, não a metade.

** Ferreira Gullar, poeta e jornalista, virou ‘Goulart’.

** Veja a frase: ‘Procurador quer extradição de Fujimori à Haia’. Será que quer pedir a extradição ou gostaria de enviá-lo a Haia? E por que a cidade virou feminina: será tradução malfeita do espanhol La Haya?



Jornal…

A Folha de S.Paulo publicou excelente reportagem sobre os bandidos que jogam óleo na pista da Régis Bittencourt, para vender serviços aos motoristas acidentados ou saquear seus veículos. Na matéria, primorosa, há até uma declaração inacreditável do chefe de Policiamento e Fiscalização da 5ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal em Registro (SP): ‘Existe uma população que vive do saque de veículos acidentados’. E a polícia, que é que faz? Limita-se a prestar declarações à imprensa?



…de ontem

Pois, no dia seguinte, houve um gravíssimo acidente, com mortos, na Régis Bittencourt. A rodovia ficou bloqueada por 12 horas depois que uma carreta com gás atravessou a pista e bateu em outros veículos. As reportagens estavam boas – mas faltou lembrar que, segundo o próprio jornal, há gente criminosa jogando óleo na pista! Jornal precisa ter memória, gente!

A propósito: o desastre foi ou não causado por óleo na pista? Depois da reportagem anterior, essa pergunta não poderia ficar sem resposta.



Saudades

O vice-presidente da República José Alencar gastou 80 mil reais em 30 toalhas, 400 guardanapos e 50 jogos americanos que considerou necessários em sua residência oficial, o Palácio do Jaburu. Todas as compras foram feitas numa loja de São Luís, no Maranhão – e nenhum jornal esteve nessa loja caríssima para ver o que tem de especial! O velho Jornal da Tarde jamais perderia essa chance.



Precisão de linguagem

O colega Jayme Brener comenta a nota sobre jogadores argentinos que venceram no Brasil e brasileiros que fizeram sucesso na Argentina. Lembra mais gente de peso, como o centroavante Heleno de Freitas, no Boca Juniors. E, numa frase magistral, recorda o magnífico zagueiro Domingos da Guia, ‘o da Guia que escolheu o caminho certo’. Domingos da Guia jogou no Corinthians, sonho que seu filho, o hoje vereador Ademir da Guia, jamais conseguiu realizar.

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Jornalista, diretor da Brickmann&Associados Comunicação