Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O trololó da educação

No editorial da Folha de S.Paulo de 18 de março, ‘O valor da educação’, lemos que ‘a educação básica já ocupa lugar de destaque na agenda nacional’ e que a profissão docente é ‘absolutamente estratégica para o desenvolvimento do país’.

Não há semana em que não encontremos em jornais ou revistas de grande circulação algum texto sobre a situação educacional brasileira e as enormes expectativas em relação à formação de milhões de crianças e jovens. Um país não se completa se a Educação não for primorosa; esse primor depende de professores preparados, ouvidos, apoiados e recebendo salários decentes.

Causa estranhamento, portanto, que um governante prestes a se lançar em campanha presidencial faça declarações desrespeitosas sobre as reivindicações da rede pública, como registrou o Estado de S.Paulo em 19 de março, ao divulgar que José Serra classificara como ‘trololó’ as sucessivas manifestações dos docentes paulistas, atualmente em greve. Que prepotência é essa que leva Serra e Paulo Renato Souza, seu secretário da Educação, a prescindirem dos votos do professorado e dos cidadãos que apoiam a postura desse professorado?

A velha tática de sempre

Toda greve é política. Em ano eleitoral (ano eleitoral no Brasil é de dois em dois anos), uma greve não estará alheia às propostas partidárias. Aliás, têm sido igualmente eleitorais as declarações de Serra e Paulo Renato nos últimos meses. E o que há nisso de estranho?

Contudo, estratégia melhor de Serra e Paulo Renato para alcançar suas intenções eleitorais e mostrar real interesse pela Educação seria não acusar os professores de terem preocupações políticas, como se estas fossem incompatíveis com a Educação. Ao contrário, só é possível fazer Educação pública com ação política. O problema, no fundo, é este: o governo de São Paulo atua como a ditadura de antanho, que via com maus olhos a politização dos professores e, por consequência, dos seus alunos, futuros eleitores…

Que José Serra e Paulo Renato comecem, então, a dialogar. Que não chamem de ‘trololó’ as urgentes questões em jogo. Que abandonem, eles sim, o blablablá eleitoreiro.

Por exemplo, uma questão a rediscutir refere-se ao polêmico Programa Valorização pelo Mérito, pelo qual os professores ‘competentes’ recebem aumento salarial e os outros não. Um programa inconstitucional e ilegal (conforme o deputado Carlos Giannazi expôs na Assembleia Legislativa) com que se colocam professores contra professores, velha tática de quem detém o poder.

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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br