Páginas e páginas sobre o varejo dos cartões corporativos – o ministro da Previdência, Luiz Marinho, vai devolver R$ 60 que não deveria ter gasto, imaginem! – e nenhuma palavra nos jornalões sobre quem é afinal esse reitor da Universidade de Brasília, que atende pelo britanicíssimo nome de Timothy Mulholland.
O que o magnífico aprontou já se sabe. Ele gastou, como se divulgou e lembra hoje na Folha a colunista Eliane Cantanhêde, R$ 2.738 com três lixeiras; R$ 7.264 com plantas; R$ 36.603 com TV e som; R$ 21.600 com quadros – e por aí, no apartamento de cobertura que ocupava.
O que não se sabe, mas a imprensa já deveria ter informado, é quem é esse reitor, de onde vem, como chegou lá – e, principalmente, o que tem na cabeça e por que lhe falta a repugnância moral ao desbunde com o dinheiro público, que se tem o direito de exigir de um intelectual do seu – presumível – gabarito.
Cadê o perfil do homem? Ou será que já passou e só este blogueiro não viu?
O cardeal e a pedofilia
O mais recente sócio da concorrida confraria dos arremessadores de ataques injustificados à imprensa parece ser sua eminência reverendíssima Dom Cláudio Hummes, prefeito da Congregação para o Clero – um dos principais órgãos da Cúria Romana, esclarece o Estado de hoje.
O bom pastor disse que os desvios e abusos na conduta moral dos clérigos, como a pedofilia, são “muito destacados e superdimensionados pela mídia”, porque, “provavelmente”, não chegam a 1% os envolvidos.
Informa José Maria Mayrink, talvez o jornalista brasileiro que mais conhece os assuntos da Santa Madre, que há no mundo 406 mil padres, dos quais 18 mil no Brasil.
Um por cento de 18 mil são 180. Arredondando para baixo, por causa do “não chegam a”, fica por 100, 120.
Então a imprensa superdimensiona atos eventualmente cometidos entre nós por uma centena de homens de fé. Ou melhor, o ato desviante e abusivo “mais grave, sem dúvida”, segundo o cardeal, “principalmente por causa das vítimas, que são crianças cujas vidas ficarão traumatizadas e feridas, quase sempre de modo irreparável”.
Ora, não se pode querer guardar a hóstia e comê-la. Se a pedofilia é o que ele disse – e não passa pela cabeça de ninguém decente que não seja rigorosamente isso – criticar a mídia por “superdimensionar” a sua ocorrência na Igreja é tão impróprio como pôr Pilatos no Credo.
Se fosse coerente com os seus elevados princípios morais, Dom Hummes deveria dizer que, sejam quantos forem os pedófilos de batina, faz muito bem a imprensa em expor os seus crimes.
Porque um em mil já seria demais.