O PT, conforme noticia a imprensa, encontrou uma forma fácil de diferenciar sua candidata à Presidência da República. Em vez de fazer um programa que fale de saúde da mulher, aborto, educação de filhos, salários iguais aos dos homens que desempenham o mesmo trabalho, criação de creches etc., etc., a agremiação bolou uma estratégia de marketing que, certamente na opinião dos homens do partido, resolve tudo. Decidiu mudar o título da candidata. A partir de agora, ela é simplesmente ‘a presidenta’.
‘Soa mal aos ouvidos, mas pode ir se acostumando, porque o martelo já está quase batido: na campanha, Dilma Rousseff será tratada como `presidenta´ e, se for eleita, assim será chamada oficialmente. A cúpula de campanha de Dilma avalia que a palavra no feminino reforça a idéia de uma mulher na presidência. O PT submeteu o `presidenta´ a uma pesquisa. Segundo se constatou, as pessoas estranham no início, mas depois aprovam. Dilma Rousseff também gostou da solução’ (Veja, 21/03/2010).
O que o PT não levou em consideração é a definição de presidenta apresentada pelos dicionários. Segundo o Michaelis e o Aurélio, a palavra presidenta se aplica tanto à mulher que preside como à esposa do presidente. Portanto, dona Marisa Letícia é a presidenta. E Dilma, eleita ou não, vai continuar sendo vista, pela grande massa, como ‘a mulher do Lula’, no bom sentido. A mulher que ele escolheu para ser sua sucessora.
Questões que interessam às mulheres
Não resta dúvida de que o Partido dos Trabalhadores é bom de marketing. Se a expressão vai pegar ou não, ou se isso tem alguma relevância no processo eleitoral, não faz diferença. O fato é que uma decisão interna – será que eles não têm coisas mais sérias a discutir na campanha? – vira notícia, pequena, é verdade, e mantém o nome da candidata no ar. Enquanto isso, na pobreza do Partido Verde, Marina da Silva – não se sabe ainda se ela quer ser chamada de presidente ou presidenta porque nenhum jornal teve interesse em lhe fazer a pergunta – continua lutando para ganhar espaço na mídia.
O que a situação das duas – comparando o noticiário sobre Dilma e Marina na mídia – comprova é que a questão feminina e a situação das mulheres não é prioridade de campanha. Portanto, não faz diferença se elas vão ser chamadas de presidente ou presidenta. O substantivo, usado no masculino ou no feminino, não vai mudar a essência de nenhuma delas. Nem sua preocupação com suas iguais.
Elas são, nesse momento, duas pessoas disputando o poder. Uma é poderosa, conta com uma enorme máquina a seu dispor e, por tabela, ocupa mais e mais espaço na mídia, das inaugurações junto com o presidente ao interesse que desperta entre os internautas. A outra disputa por um partido pequeno, só vira notícia quando participa de simpósios internacionais ou, como aconteceu recentemente, quando é entrevistada para falar do grande sucesso do momento, Avatar, o filme que tenta mobilizar pessoas para a causa ecológica.
O fato de serem mulheres parece ser irrelevante, tanto para elas quanto para a mídia ou para os seus partidos.
Resta esperar para ver se o candidato do PSDB terá mais sensibilidade e vai saber aproveitar o vazio que as duas mulheres estão deixando nos seus programas de governo. Se for esperto, José Serra levará às eleitoras uma mensagem que mostre que um dos candidatos se preocupa com elas e vai tentar fazer alguma coisa para melhorar a situação das milhões de mulheres carentes que dependem do SUS para cuidar da saúde, precisam de melhores condições de moradia e trabalho e sonham em dar uma boa educação para os filhos.
Cabe à mídia reunir os três e discutir – em profundidade – as questões que interessam às mulheres. Seria uma boa forma de ajudar as eleitoras a definir seu voto. Sem se deixarem levar por artigos masculinos ou femininos que, na verdade, não querem dizer rigorosamente nada.
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Jornalista