Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mixórdias da editorialização da reportagem

Não se trata de defender a diplomacia oficia. Muito menos – pelo contrário – o governo de Hugo Chávez, mas apenas para reforçar aviso de postagem anterior, na qual se alertava que a leitura de reportagens sobre a Venezuela deve ser acompanhada de muita, muita desconfiança. A passagem da chefe do Departamento de Estado, Condoleezza Rice, pelo Brasil apenas reforça essa necessidade: é preciso ler não com um, mas com dois pés atrás, como é o caso do O Estado de S.Paulo, por exemplo. A manchete principal da quarta-feira, 27 de abril, ‘Condoleezza critica apoio a governo Chávez’ traz em si o grande mistério: por mais que se leia repetidas vezes a reportagem, não se encontra a declaração da secretária de Estado dos EUA criticando o ‘apoio’ do Brasil ao presidente da Venezuela. O principal editorial do dia, ‘Diplomacia Quadricéfala’, investe contra ‘os quatro ministros das Relações Exteriores’ que o Brasil hoje tem – mote utilizado para a demolição de toda a política externa do atual governo.


Mas esqueceram de avisar a colunista Dora Kramer, para quem não são quatro, mas três ministros das Relações Exteriores. Esqueceram-se também de avisar os repórteres Denise Crispim Marim e Expedito Filho. Eles abrem a reportagem ‘onde está Wally?’ da manchete principal reconhecendo ‘o papel de liderança crescente’ do Brasil ‘na América do Sul e no mundo’. Após a leitura dos três textos, o que fica é a mixórdia resultante da editorialização da reportagem – a ajambrada que se tenta dar aos fatos para que eles entrem de acordo com o quê querem ou pensam os donos dos jornais.


A cobertura da Folha de S.Paulo é mais honesta, pois pelo menos informa, segundo o Departamento de Estado fez chegar ao The New York Times, ‘que o objetivo da visita da secretária de Estado é despertar a preocupação dos países da região para o ‘risco à democracia’ que a Venezuela representa’. Na mesma reportagem, a Folha joga a pá de cal definitiva sobre ‘a crítica’ que O Estado diz ter existido, mas não conseguiu mostrar. A secretária de Estado disse com todas as letras: ‘Os assuntos relativos à Venezuela não são assuntos entre os EUA e a Venezuela ou entre a Venezuela e o Brasil. São assuntos sobre liberdade, democracia e instituições a que o povo venezuelano tem direito’.