Continua ausente do noticiário um relato sobre como ocorreram as rebeliões do Dia das Mães em presídios paulistas. Sem esse dado será impossível entender a dinâmica e as articulações do chamado crime organizado.
Estudar as rebeliões permitirá entender melhor a dinâmica da ação do PCC e de outros grupos criminosos em cada lugar. Talvez seja mais eficaz do que polemizar a respeito do bloqueio de celulares nas cadeias.
A verdade é que o Estado brasileiro trata esses lugares como depósitos de uma escória social. Gasta aparentemente muito – nem tanto, se forem reexaminadas as prioridades sociais, políticas e mesmo econômicas –, mas gasta mal. Estuda muito pouco essa realidade e não cria condições para que pesquisadores o façam. Mas a “escória” enriqueceu, ascendeu socialmente, domina novas tecnologias, articulou-se dentro do sistema policial e judiciário, aprendeu a manipular a mídia. É um adversário que não se enfrenta com desdém.
A vida no grito
Acusado de ser chefe do tráfico de drogas na Favela da Maré, Nilson Duarte da Silva, dito o Pagodeiro, foi preso ontem numa clínica do bairro carioca de Botafogo. Ele, com nome falso. E os policiais que o prenderam, disfarçados. Tanto que os funcionários da clínica pensaram que fosse um seqüestro. Mas o Pagodeiro reagiu aos berros, gritou por socorro.
Usou basicamente a mesma técnica que seu antecessor na Maré, Sassá, para ficar vivo: deu publicidade à prisão. Quando foi cercado, em novembro passado, Sassá convocou uma manifestação de moradores. Ao contrário do traficante Bem-Te-Vi da Rocinha, que dias antes morreu no chamado confronto com a polícia, Sassá sobreviveu e está preso em Bangu. Seu pupilo aprendeu a lição. Foi levado aos berros. Com testemunhas. Alguns dirigentes políticos clandestinos sobreviveram assim à repressão policial-militar sob a ditadura.