Talvez a pergunta devesse ser feita em sentido oposto. Por que ser jornalista? Para tomar essa decisão, todo aspirante, ou melhor, todo o foca deveria estar ciente das diversas dificuldades enfrentadas pelo profissional (talvez este termo não seja o ideal para definir um jornalista) que, desvalorizado, deve competir com provisionados e se sujeitar às desventuras de baixos salários, maus humores de patrões não formados, políticos, médicos, engenheiros, ou qualquer pessoa que possa se tornar uma fonte para matéria.
Pode, sim! Este texto pode ser considerado um desabafo. Mas prefiro defini-lo como um protesto a quem não entende, não conhece ou acha que conhece o processo de produção de uma matéria. Muito mais que escrever qualquer coisa, nós pensamos antes, antes mesmo do clique do dedo no start da câmera, nós pensamos na foto antes, pensamos antes de começar a escrever ou gravar um off. E mesmo depois de 10 horas de trabalho, mesmo assim, aparece um adenoma para dizer: Poderia ter ficado melhor!
Os motivos são muitos para se desistir do jornalismo. No Brasil, vivemos numa pseudo-liberdade de imprensa. Ameaças de agressões físicas, os contratos publicitários, trocas de favores entre políticos e proprietários de veículos de comunicação sujam e desestimulam os profissionais que ainda acreditam nesta profissão falida.
Acreditando num passe de mágica
A desculpa, hoje, é a de que qualquer um pode ser jornalista. O ministro Gilmar Mendes acredita nisso. Para ele, o que embasa isso é o fato do número de estudantes de Jornalismo crescer. Na cidade onde ele nasceu (Diamantino-MT), o paladino da justiça manda e desmanda em prefeito, desembargadores, juízes. Tudo encoberto por veículos de comunicação fracos e enfraquecidos por ele mesmo. Veículos que não visam outra coisa a não ser o lucro exacerbado em cima de cargas horárias extensas e venda de informação para os chamados ‘parceiros’.
A profissão se prostituiu. No entanto, é preciso lembrar que ainda existem profissionais capacitados e crentes de que tudo vai melhorar. Bom! Pelo menos é isso que penso, ao pensar em desistir do jornalismo. Comprar um carro, uma casa, poder viajar, pelo menos uma vez por ano, esse era o meu sonho ao me formar. Bobeira minha em sonhar com tão pouca coisa. Na realidade da profissão, deveria pensar em conseguir um emprego para ganhar um salário de R$ 700,00, torcer para não ficar depressivo e agradecer por trabalhar como jornalista.
Na verdade, hoje, aos três anos e dois meses de formado, não vejo futuro nesta profissão e isso parece ruim. Apesar de saber disso, continuo acreditando que tudo vai melhorar, que surgirá alguém e, como em um passe de mágica, resolverá todas as questões relacionadas à profissão. Mais uma besteira. Então! Vai um jornalista aí?
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Jornalista