O horário obrigatório do PSDB veiculado há pouco (20h30 do dia 29 de maio) nas televisões abertas de São Paulo procurou isolar cirurgicamente os candidatos José Serra e Geraldo Alckmin da abordagem dos problemas de segurança pública. Entre os dois blocos em que o ex-prefeito e o ex-governador foram protagonistas foi utilizado, para essa finalidade, um apresentador.
Nessa passagem, o ex-governador Alckmin defende uma política de firmeza, dura, e se vangloria das ações que adotou para isso. Numa comparação inteiramente fora de propósito que faz há alguns anos, Alckmin diz que os efetivos policiais paulistas, 130 mil homens nas polícias Militar e Civil, são maiores do que os da Marinha e da Aeronáutica brasileira somados. É mencionado o montante do gasto em segurança pública entre a posse e a saída de Alckmin, de 34,8 bilhões de reais.
Nesse momento, um recorte do jornal Valor do dia 22 de maio é usado fraudulentamente. Uma voz em off lê o título da página 6 do primeiro caderno daquele dia, título, por sinal, mal feito, que se presta a esse tipo de aproveitamento. Diz assim: “Orçamento da Segurança Pública cresceu 70% na gestão Alckmin”.
Mas ainda no primeiro parágrafo da reportagem, assinada por Caio Junqueira, após a informação sobre esse percentual de aumento, está escrita a ressalva: “ No entanto, a distribuição de recursos revela uma prioridade ao politicamente preventivo em detrimento do investigativo e do técnico-científico”.
Daí em diante, a reportagem é uma crítica só:
– Os investimentos na PM foram de R$ 285,7 milhões; na Polícia Civil, de R$ 8,5 milhões; a Superintendência Técnico-Científica ficou com R$ 1,9 milhão.
– Os recursos para armamento da PM foram o dobro dos gastos com armamento da Civil.
– Para equipamentos de informática, o quádruplo.
– Para veículos, 657 vezes mais.
– Os gastos com a Polícia Científica só se elevaram em 2004 (R$ 1,2 milhão) e em 2005 (R$ 11,3 milhão). Permaneceram em R$ 139 mil em 2002 e em R$ 128 mil em 2004 (o jornal não dá a cifra referente a 2003).
O especialista ouvido na reportagem, Guaracy Mingardi, diretor científico do Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente, uma ONG vinculada à ONU, declarou:
“O resultado disso afeta a qualidade da investigação. Aquilo que a PM não conseguiu impedir de acontecer, e passar para a Civil investigar, com a perícia da polícia científica, não terá resultado eficiente. Resultado: menos crimes, de qualquer natureza, têm sua autoria descoberta Na média, chega-se aos culpados de menos de 10% dos crimes”.
A reportagem mostrava ainda que a maior concentração de investimentos tinha ocorrido em ano eleitoral, 2002, quando Alckmin concorreu à reeleição.
Ouvida, a Secretaria de Segurança pública disse que o volume de gastos maior com a PM se deveu ao aumento do efetivo nos últimos anos. E criticou o governo federal por ter diminuído os repasses para investimentos no estado de São Paulo.
Vamos ver se o Valor de amanhã, terça-feira, critica essa falsificação marqueteira de seu material.