A rapidez com que ‘envelhecem’ as revistas semanais de informação é um dos sintomas de como os novos meios, reestruturados pelas redes sociais virtuais, afetam o jornalismo tradicional. Observe-se, por exemplo, como, já na segunda-feira desta semana, as reportagens publicadas nas revistas brasileiras sobre a revolução contra a ditadura no Egito pareciam superadas em relação ao que traziam os jornais.
O fenômeno ainda merece estudos mais aprofundados, mas é de se questionar que recursos precisarão inventar as publicações de periodicidade semanal para manter a atenção de seus leitores diante da dinâmica dos fatos.
Já se disse, nos anos 1990, quando começou a era da Internet, que jornais e revistas seriam obrigados a oferecer mais reflexão do que informação, mas não se pode afirmar que a profusão de colunas, artigos e outros penduricalhos esteja ajudando o leitor a entender melhor o contexto do noticiário. Persiste ainda, nos meios impressos, certa afobação em definir e explicar os acontecimentos, quando na verdade talvez esteja em curso a valorização gradual e segura do significado em lugar do opiniário puro e simples.
Primeiros informes
Esse fenômeno, ainda a ser comprovado ou desmentido, pode indicar que o chamado público – que é cada vez mais protagonista – estaria mais disposto a acumular informações antes de interpretar os fatos.
No caso da revolução do Egito, por exemplo, já na madrugada de sexta-feira (11/2) – horário brasileiro – as redes sociais divulgavam, a partir da Praça Tahrir, que o ditador Hosni Mubarak havia sido destituído pelo conselho das forças militares. Este observador chegou a produzir um relato afirmando que Mubarak havia caído.
No entanto, os primeiros informes online da imprensa tradicional afirmavam que o exército egípcio havia dado respaldo a Mubarak, o que autorizava os intérpretes da imprensa ocidental a concluir que o movimento popular havia fracassado. Temia-se, até, um massacre dos manifestantes, como havia acontecido na praça Tienamem, em Pequim, em 1989.
Afobação e desinformação
As notícias de um retrocesso não combinavam com o relato do ‘front’, transmitido dos telefones celulares de manifestantes para as redes da internet, dando conta de que Mubarak havia sido alijado da cúpula do governo. Só mais tarde, quando o comando militar divulgou o comunicado oficial informando sobre a destituição do ditador, a imprensa ocidental assumiu que o tirano havia caído.
Entretanto, desde a manhã as redes sociais refletiam o clima de festa no Cairo, porque os manifestantes haviam entendido que, ao ser deixado de fora da reunião da cúpula de governo, Mubarak estava claramente destituído. A imprensa tradicional só assumiu esse fato como verdadeiro após a divulgação de uma nota oficial do comando militar.
Quando a pressa em interpretar os fatos se sobrepõe ao cuidado na apuração e na análise, corre-se o risco de antepor a opinião do jornalista ao verdadeiro significado do acontecimento.
Observatório na TV
Alberto Dines:
A crítica da imprensa compreende reflexão, reprovação e também aprovação. Se ao público não se mostra o que é correto, como ensiná-lo a valorizar o que é bom? Sem referências, o leitor, ouvinte ou telespectador se perde e acaba assimilando os erros dos veículos que utiliza para informar-se. O Observatório da Imprensa prossegue esta noite na terceira etapa da viagem pelos bastidores de um dos melhores jornais do mundo, o diário espanhol El País, editado em Madri. Nesta terça-feira (15/2) teremos Javier Moreno, o diretor de Redação, Luis Prados, editor internacional e Winston Sabogal, editor do celebrado caderno de cultura ‘Babelia’, entre outros. Às 22h pela TV Brasil em rede nacional. Em São Paulo, pelo canal 4 da Net e 181 da TVA. Os programas anteriores estão disponíveis em nosso site:
JUAN LUIS CEBRIÁN – Os jornais e a ruína dos modelos
EL PAÍS – Ombudsman, o exercício da solidão