Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Para fazer do limão uma limonada

Minha solidariedade ao jornalista Aguirre Peixoto, egresso da Facom, a quem orientei no seu trabalho de conclusão no bacharelado em Jornalismo do curso de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, defendido há pouco mais de um ano – não tranquilamente, que o diga o jornalista Tasso Franco, que participou da banca.

Trabalhei em A Tarde em vários momentos no período da redação comandada por Jorge Calmon. Se algum episódio houve de tamanha covardia contra um repórter no exercício de sua função, não presenciei. Testemunhei Jorge Calmon satirizar tentativas de pressões que à época empresários e grupos políticos poderosos fizeram, pedindo a cabeça de jornalistas. Pelo menos duas vezes fui chamado à sua sala, convidado a sentar à sua frente, para que me mostrasse correspondências – telegramas ou cartas, ou notícias de telefonemas – de representantes de interesses poderosos contrariados com matérias que escrevi e que foram publicadas. Um hoje proprietário de rádio popular, mas por anos estrela política em ascensão, foi um desses – que utilizou até mesmo serviços de outros jornalistas (um deles agora marqueteiro do lulismo). Jorge Calmon simplesmente não dava bola, e nos mandava – repórteres – fazer o nosso trabalho.

A demissão de Aguirre Peixoto é um atentado ao livre exercício da profissão de jornalismo. Nos semestres em que foi meu aluno na Facom, percebi nele a garra, a vontade e a alegria de cumprir as pautas que criávamos para o hoje morto Jornal da Facom, onde ele primeiro teve suas reportagens publicadas. Quando me procurou para ser seu orientador no projeto de construção de um site de jornalismo político-cidadão, percebi o seu desejo de ajudar a melhorar a cobertura jornalística nesse campo, infelizmente pouco respeitado na Bahia – por conta de feudos dominados por antigos e novos coronéis, mantenedores do atraso.

Mensagem em reciprocidade

Que Aguirre Peixoto esteja cônscio que ele não é, não foi e nem será a vítima exclusiva desse atentado. E que saiba daí extrair a energia para continuar cumprindo com o seu dever profissional: um cão de guarda em defesa daqueles que, tacitamente, concederam-lhe o mandado de apurar, falar, bradar, denunciar, apurar em nome dos que não podem fazê-lo. Que, para citar Ruy Barbosa, seja não apenas os olhos, mas também o nariz e a boca dos menos favorecidos.

Esta é também uma mensagem em reciprocidade. Obrigado por ter ajudado a liderar o manifesto em minha defesa quando fui ‘cassado’ do jornal-laboratório da faculdade que tentou ‘ensinar’ jornalismo a você.

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Jornalista, professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia