Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Servindo o leitor à moda antiga

O Globo e o Estado de hoje reviveram hoje uma prática que a imprensa parecia ter abandonado de vez, no bojo do processo de encolhimento do espaço para informação – a partir da conveniente crença de que o leitor cada vez menos quer textos longos.

O que os dois jornais fizeram, acertadamente, foi publicar na íntegra o discurso de ontem do presidente Lula ao Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, que ocupa quase uma página inteira.

Acertadamente porque, julgue-se como se queira o que ele disse, trata-se da primeira manifestação substantiva nesta campanha sucessória intragavelmente pobre de conteúdo. A fala de Lula é a coisa mais parecida com um programa de governo que já se viu até agora.

Globo e Estado fizeram a sua parte. Os leitores que pularem o texto depois não se queixem que a mídia informa pouco e mal. Aliás, se a grande imprensa fosse tão facciosa como se diz, aquele discurso não teria sido publicado. Porque, evidentemente, induz a crer que o país precisa de mais quatro anos de Lula.

P.S. 1 Retrato em preto e branco

A Folha não deu o discurso de Lula na íntegra, mas oferece hoje uma jóia de reportagem: a matéria de Daniela Tófoli com a história de dois ladrões, ‘João Negro’ e ‘João Branco’. O primeiro bateu uma carteira que tinha R$ 10. Pegou um ano de cadeia. Passados 10 meses do fim da pena, continua em cana porque foi confundido com o segundo. Este, armado, roubou R$ 162 e foi condenado a três anos e meio. Depois de seis meses, conseguiu fugir.

A história de João Pereira da Silva, o negro, e de João Pereira da Silva, o branco, é um retrato do sistema carcerário brasileiro.

P.S. 2 Vida inteligente na mídia

A decisão da União Astronômica Internacional (IAU, na sigla em inglês) de excluir Plutão do sistema planetário de que faz parte a Terra levou a imprensa a perguntar aos astrólogos o que isso muda.

Confundiram crendice com ciência, desinformando o leitor.

A exceção, prova da existência de vida inteligente na mídia, ficou por conta de umas poucas palavras do editor científico da Folha, Claudio Angelo:

‘Quem crê que uma bola de gelo a 5 bilhões de quilômetros afeta a personalidade dos primatinhas aqui não tem mesmo motivos para se abalar com a decisão da IAU.’

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