O jornalismo está deixando de ser uma atividade especializada em produzir notícias para jornais, revistas, radio e TV para ser uma função essencial na transformação de dados e informações em conhecimentos estruturados que cujo valor monetário e social não pára de crescer. Numa primeira leitura parece uma heresia ou mais um dos modismos dos tantos que proliferam na internet. Mas uma leitura mais atenta de textos, weblogs e ensaios sobre uma disciplina chamada Gestão do Conhecimento mostra que o jornalismo é, potencialmente, uma ferramenta essencial naquilo que o jargão acadêmico define como transformação de conhecimentos tácitos em explícitos. Trocando em miúdos, seria o seguinte: o repórter recolhe dados (números, estatísticas, fotografias, filmes, depoimentos, descrições etc) em estado bruto e os contextualiza, ou seja, acrescenta antecedentes, beneficiados, prejudicados e conseqüências possíveis antes de publicá-los. É o que os especialistas em Gestão do Conhecimento, como o professor Neri dos Santos, da Universidade Federal de Santa Catarina, definem como conversão do conhecimento tácito em conhecimento explícito, estruturado, onde o dado e a informação ganham um significado graças, entre outras coisas, à contextualização. Esta conversão está na base do crescimento da lucratividade da maior parte das empresas da chamada Nova Economia e é vista como a grande riqueza potencial dos países menos desenvolvidos quando estes começarem a explorar suas reservas de conhecimento tácito. Se existe uma contribuição que a internet fez para o desenvolvimento da humanidade, esta é a da valorização do conhecimento. Ela viabilizou o que nós chamamos hoje avalancha informativa ao permitir a circulação de dados, informações e noticias, numa intensidade e velocidade inédita na história do nosso planeta. Esta avalancha é perceptível pelos jornalistas no seu dia a dia graças à enorme quantidade de notícias que chegam às redações e aos computadores pessoais de redatores, repórteres e comentaristas. Eles estão sendo forçados a se transformar em trabalhadores do conhecimento, só que a maioria ainda não se deram conta de que esta mudança implica também alterações nos seus valores profissionais, rotinas e inserção social. Os jornalistas sempre estiveram mais próximos do poder do que da sociedade, que é a grande produtora de conhecimento tácito, dos dados brutos, informações que só estão na cabeça das pessoas. Agora estão perdendo o duvidoso privilégio da convivência com os poderosos e muitos não gostam disto porque associam o fenômeno à uma perda de importância da profissão. Só que visto pela ótica da nova sociedade do conhecimento, aquela onde o conhecimento é a matéria prima mais valorizada, o jornalista passa a ser uma peça essencial no processo de transformação de conhecimento tácito (bruto) em explícito (contextualizado). Perde poder por um lado e ganha pelo outro. Conversa com o leitor:
No próximo post vou analisar como as rotinas do jornalismo estão mudando em conseqüência da era do conhecimento. Trata-se de um ensaio para tentar entender o que está acontecendo com a profissão. Estou apenas arranhando o tema. Por isto, quem tiver idéias a respeito, o espaço está aberto para a uma ‘pensata’ coletiva. Mais cabeças pensam melhor do que uma.