Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Parceria controversa e falta de transparência

A integridade do Washington Post vem sendo questionada por ter divulgado como material noticioso uma informação de interesse pessoal no último dia de 2009. O ombudsman Andrew Alexander [10/1/10] refuta a acusação, mas afirma que o jornal está pagando o preço pela falta de transparência com seus leitores.

O artigo em questão foi escrito pelos jornalistas Elaine S. Povich e Eric Pianin, que trabalham para uma organização digital recém criada chamada Fiscal Times, e foi a primeira peça a ser publicada no diário como resultado de uma nova parceria. O Fiscal Times faz parte de uma tendência de organizações de notícias não tradicionais criadas para fornecer material especializado a veículos de comunicação. O Post e outros veículos começaram a fazer parcerias com este tipo de grupo a fim de ampliar a cobertura diante da redução de suas equipes. Estas organizações são, em geral, mantidas por benfeitores ou fundações e, para garantir sua autonomia, têm uma estrutura de gerência composta por jornalistas.

Comissão

O texto no Post defendia a criação de um plano para nomear uma comissão especial bipartidária a fim de cuidar das dívidas do país e alegava que este é o momento certo para fazê-lo. Um grupo de especialistas e acadêmicos contrários à ideia da comissão foi rápido em ressaltar que o Fiscal Times foi fundado e é financiado pelo bilionário Peter G. Peterson, ex-banqueiro investidor de Wall Street que defende publicamente a redução dos déficits federais e o controle dos gastos dos programas de benefícios sociais. ‘Peterson está comprometido há décadas em um esforço para realizar mudanças na Previdência Social por meio de uma comissão que proteja membros do Congresso da responsabilidade política’, afirmou um dos críticos. A blogosfera não demorou a reproduzir as acusações e, logo, o caso assumiu ares de escândalo.

O ombudsman do Post não concorda com as críticas de que o artigo tenha sido publicado para suprir interesses de Peterson. A pauta partiu dos editores do Post e não do Fiscal Times. Depois de o site ter submetido um primeiro rascunho sobre o assunto, com um tom opinativo, foram os editores do Post que insistiram em colocar a possibilidade da criação da comissão como um dado noticioso. ‘Tivemos total controle’, diz Greg Schneider, editor de economia nacional do jornal.

Ainda assim, Alexander procurou Peterson, que lhe explicou que, apesar de financiar o Fiscal Times, não tem nenhum controle editorial sobre o grupo. Ele não soube da matéria em questão com antecedência, reforçando que não tem a intenção de revisar nenhum artigo antes de sua publicação.

Faltou dizer

O ombudsman reconhece, entretanto, que a matéria tem sérios problemas – a maioria ligada à falta de transparência. Uma nota de rodapé explicava que o Fiscal Times é uma ‘organização digital independente que escreve sobre assuntos orçamentários, fiscais e econômicos’, sem revelar, no entanto, que ela foi criada e é financiada por Peterson, que tem interesses no assunto. O artigo citou o presidente da Coalizão Concord, sem mencionar que o grupo recebe financiamento da fundação de Peterson. O momento da publicação da matéria também foi problemático: semanas antes de o Senado considerar a ideia da comissão. E, por último, não foram levadas em consideração as opiniões contrárias ao projeto.