Agora já não pode haver mais dúvida. As agências de Marcos Valério não eram de publicidade. Eram agências bancárias dentro de outras agências bancárias.
Quando A queria passar dinheiro para B, depositava no BMV, o Banco Marcos Valério, que funcionava no BMG, Rural e Banco do Brasil, entre outros. B, por sua vez, só tinha o trabalho de sacar o seu, da forma que lhe conviesse. Tudo tão normal que os sacadores apresentavam nas agências os seus documentos de identidade, cujos números ficavam ali registrados.
Pela intermediação financeira, que podia servir tanto para lavar como para esfriar dinheiro – e põe dinheiro nisso –, o BMV decerto cobrava uma taxa de administração substancial, porém compatível com a sua função e os valores em trânsito. Nada mais justo.
A e B poderiam ser lo que quieras, como dizem os espanhóis. Por exemplo, como se lê nos jornais de hoje, empresas, associações de juízes, frente de prefeitos e a ONG das ONGs brasileiras.
A Abong (Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais), esse o seu nome, figura nos documentos em poder da CPI dos Correios como tendo sacado do BMV a quirera de R$ 500 mil.
Na Folha, o presidente da Abong, Jorge Saavedra, diz que o dinheiro veio de estatais como patrocínio para o Fórum Social Mundial deste ano e, cito o jornal, “não tem nenhuma relação com Marcos Valérios ou com suas empresas”.
Tsk, tsk, tsk. Já era tempo de uma associação do porte da Abong ter a sua própria conta bancária em algum estabelecimento mais, digamos, convencional, pelo menos para receber as contribuições que lubrificam as suas meritórias atividades.
Mas ainda é tempo de entregar ao doutor Marcos Valério de Souza o título de Banqueiro do Ano – de 2005, 2004, 2003, 2002…