A cada nova irrupção de antagonismo aos ditadores no Norte da África e no Oriente Médio, o leitor ou telespectador brasileiro toma uma surpresa. É o reflexo da surpresa das redações. Apesar da forte presença de árabes e seus descendentes no país. E apesar de o governo Lula ter praticado toda uma política de aproximação com os governos locais, ou talvez por isso mesmo: o jornalismo declaratório, oficialista, ocupa o espaço do jornalismo investigativo e analítico.
Jornalistas não garimparam nada
Em artigo (‘Complexo do Alemão, Serra Pelada‘ no Estado de S. Paulo de sexta-feira (18/2), Fernando Gabeira escreveu que ‘três das quatro mais importantes quadrilhas da polícia do Rio participaram da tomada do Alemão. A pilhagem dos bens de traficantes e dos moradores foi tão espetacular que um dos policiais bandidos, grampeado pela Polícia Federal, comparou o Complexo do Alemão a Serra Pelada, onde milhares de garimpeiros cavavam o solo em busca de uma pepita de ouro’.
A imprensa que cobriu a ‘operação’, em novembro, não viu nada disso. A imprensa não noticiou as mortes ocorridas. Não se sabe até hoje o número de mortes, muito menos, é claro, os nomes dos mortos.
No entanto, já em 21 de dezembro a ONG Justiça Global denunciava em manifesto a ‘garimpagem’ que estava sendo realizada no local. As autoridades fingiram não ouvir. Mas isso não surpreende. As autoridades convivem há muito com a rede criminosa em que se transformaram as polícias do Rio de Janeiro. Sabem de tudo.
Surpreende que a mídia no Rio não tenha querido ouvir as vozes que denunciavam a rapina do ‘espólio de guerra’, depois replicada no Morro de São Carlos. E o pior é que as armas apreendidas nessas operações bélicas são revendidas por policiais civis e militares para grupos criminosos de outras favelas.