Observatórios em Rede, uma organização de reúne observatórios da imprensa em 10 países latino-americanos, vai monitorar as eleições presidenciais no Chile e Bolívia para identificar visões distorcidas de jornais locais sobre as campanhas eleitorais para a votação em dezembro próximo.
A rede de observatórios, criada em 2007 a partir de uma iniciativa do Observatório da Imprensa, já monitorou as eleições presidenciais do Equador, em abril deste ano, como um teste da metodologia a ser aplicada tanto na seleção da amostra como na interpretação dos resultados.
O monitoramento de processos eleitorais foi a opção escolhida para identificar como a imprensa de um país cobre campanhas políticas em nações vizinhas. Além de detectar ênfases e omissões, o monitoramento procura apontar idéias preconcebidas e distorções na cobertura jornalística, capazes de prejudicar as relações entre países da região.
Trata-se de um projeto inédito na América Latina e um dos primeiros no mundo a trabalhar com este tipo de preocupação, voltada não só para o aprimoramento da cobertura jornalística mas também para o melhoramento das relações entre nações vizinhas.
Na experiência piloto realizada nas eleições presidenciais do Equador, em abril, o monitoramento foi feito em sete países, onde foram selecionados os três principais jornais com circulação nacional, num total de 21 publicações, localizadas em 9 cidades. A amostra incluiu um período de 20 dias (17 antes e três depois das eleições).
A principal conclusão a que chegou o estudo é a de que a imprensa, de maneira geral, pensou mais nos interesses nacionais do que no que estava acontecendo no Equador. Aqui no Brasil foram monitorados O Estado de São Paulo, Folha de São Paulo e O Globo, que juntos publicaram apenas 9% de todas as notícias produzidas pelos 21 jornais incluídos na pesquisa.
Foram apenas 13 notícias contra média de 20 publicadas no mesmo período por todos os demais jornais monitorados. O Estadão foi o que deu mais informações sobre as eleições equatorianas, sendo o único dos três jornais brasileiros que publicou um editorial sobre o pleito. Os jornais peruanos e bolivianos foram os que mais cobertura deram à reeleição do presidente Rafael Correa, enquanto a imprensa brasileira foi a que menos atenção deu ao evento.
No caso dos nossos três jornais, a cobertura teve muito mais a ver com as conseqüências das eleições para as empresas brasileiras instaladas operando no Equador do que à analise das questões políticas internas. Os jornais brasileiros também destacaram muito mais as ligações entre Correa e o presidente venezuelano Hugo Chávez do que o fato de que a votação foi a primeira das últimas três décadas no Equador onde um mandato presidencial foi cumprido integralmente.
Nas duas eleições presidenciais previstas para dezembro, o monitoramento pretende aprofundar a medição dos preconceitos desenvolvidos no interior de cada país e que acabam sendo refletidos na imprensa, quando esta cobre eventos políticos em nações vizinhas. São idéias preconcebidas que levam os argentinos a chamarem os brasileiros de macacos e enquanto nós menosprezamos os paraguaios e bolivianos.
A identificação deste tipo de distorção no noticiário publicado pela imprensa ajuda a reduzir preconceitos que por sua vez podem ter uma influência decisiva nas relações econômicas, diplomáticas, culturais e até esportivas entre os países latino-americanos.