TERREMOTO
Haiti: postura da mídia mudou em relação à cobertura cidadã
‘Os primeiros relatos partirem de pessoas comuns (cidadãos-jornalistas), a internet ser a única estrutura de informação e dispositivos móveis serem os principais meios para pedir ajuda e se informar já não são mais novidade em tragédias.
O que o terremoto no Haiti demonstrou é que a postura da mídia mudou em relação à chamada ‘cobertura cidadã’ (relatos e conteúdo produzidos por cidadãos).
Logo quando eu soube da tragédia, a associação que fiz foi com o Tsunami em 2004, na Ásia. Situações parecidas. Tragédias de grandes proporções. Regiões sem estrutura de internet, logo a cobertura mobile adquiriu importância maior ainda. Poucos jornalistas no local, portanto primeiros relatos partindo de cidadãos, web via satélite como principal tecnologia de informação.
Na época do Tsunami, este blog tinha quase dois anos de existência. Fiz um liveblogging da tragédia. Para mim, foi uma das experiências mais marcantes com internet. Pessoas enviavam links, trocavam informações pelos comentários, meio de improviso criou-se uma rede internacional de blogs que divulgavam informações e eu estava inserido nela. Era um dos poucos blogs em português.
Em relação à logística como as informações circularam, tudo o que ocorreu no Haiti aconteceu na época. A web reunindo os primeiros relatos e sendo o principal meio de informação, dispositivos móveis via web satélite sendo usados, empresas de tecnologia se reunindo para ajudar as vítimas (na época, a Amazon arrecadou US$ 3 milhões por meio de seu site).
Além das ferramentas (na época blogs em destaque. Hoje, Twitter), a diferença mesmo foi a postura da mídia, que, naquele momento, ficou muito reticente em utilizar os relatos que chegavam via internet, o material que a chamada ‘cobertura cidadã’ produzia.
Na tragédia no Haiti percebe-se que a postura já é bem diferente. Grandes sites de informação assumiram o papel de curadores do conteúdo que estava sendo publicado na web. NYTimes, CNN e MSNBC logo correram e montaram as suas listas no Twitter.
Blogs foram colocados no ar, apontando para links externos com informações úteis. Aliás, está virando praxe quando acontece uma tragédia, a imprensa correr para Orkut, Facebook, Flickr, Twitter e YouTube para colher os primeiros relatos, fotos e vídeos.
Neste sentido, o relato de Emily Purser, da SkyNews, é bem emblemático. Ela escreve sobre a importância do Facebook, YouTube e Twitter em seu trabalho na cobertura.
A tragédia do Haiti representou a consolidação de que mudou a postura da mídia em relação à chamada ‘cobertura cidadã’.’
DIREITOS AUTORAIS
Grande banco de imagens, mas com alguns direitos reservados
‘O site de fotos Flickr foi palco de mais um imbróglio envolvendo direitos autorais. O jornal The Independent fez uma busca por fotos sobre a neve que caiu nas últimas semanas na Inglaterra. Encontrou as imagens no Flickr, acabou utilizando-as.
O problema é que o jornal não deu crédito aos autores das fotos. Peter Zabulism, um dos autores das imagens, logo entrou em contato com a publicação. O jornal achou que não haveria problemas, pois as imagens haviam sido retiradas de um ‘site de compartilhamento de fotos’. O que não quer dizer que não seja necessário dar os créditos. No final das contas, o jornal percebeu o erro, pediu desculpas e ainda pagou o fotógrafo.
Até aí normal, casos como este ainda acontecem aos montes. Resultado muitas vezes de desconhecimento ou mesmo de preguiça e arrogância.
O que chamou a minha atenção neste caso foram duas coisas. Primeira, ele revela o quanto o Flickr vem se tornando um banco de imagens – universal, livre e gratuito. Outro exemplo vem de mim mesmo. Há um bom tempo utilizo o site de fotos como o banco de imagens deste blog.
É um dos usos que você pode fazer do site, além de álbum de família, portfolio e o que mais puder. Neste sentido, não há dúvidas de que o Flickr é atualmente uma das principais fontes de imagens sobre diversos assuntos. Hoje não é nenhum absurdo pensar em fotos e associar logo o pensamento ao Flickr em vez de Kodak ou outra empresa tradicional ligada à fotografia.
Segunda. Não somente o Flickr, mas outros sites que trabalham com ‘compartilhamento de conteúdo’ precisam deixar mais claro informações sobre direitos de uso e direitos autorais. Sempre achei a forma como o Flickr apresenta essas informações um pouco deficitária, principalmente para o público leigo que não sabe o que é Creative Commons.’
CONTEÚDO PAGO
Alguém tem que pagar as contas
‘Um dos primeiros jornais digitais a derrubar o paredão de conteúdo pago poderá ser o primeiro a reerguê-lo. Segundo reportagem da New York Magazine, o NYTimes estaria prestes a cobrar novamente pelo acesso ao seu conteúdo. O anúncio poderá ser feito na próxima semana, quando também aconteceria o lançamento de uma parceria de conteúdo com a Apple.
Não é a primeira vez que surge o boato sobre a volta da cobrança de conteúdo, reflexo dos conflitos internos pelos quais o NYTimes está passando a respeito de seu futuro.
Caso execute a ideia, será o jornal que, em sua versão digital, mais transitou por modelos em um pequeno espaço de tempo. Antes não cobrava pelo conteúdo, depois passou a cobrar. Partiu para o modelo de conteúdo subsidiado por publicidade e agora poderá voltar atrás, num modelo que será um meio termo entre o adotado pelo WSJ e o Financial Times (quem lê mais paga mais).
E caso esse modelo dê certo, comece a gerar receita, o NYTimes ajudará a quebrar um mito. De que o usuário de internet se interessa somente pelo que é gratuito, como se o valor de algo estivesse somente no preço. As pessoas buscam pela informação que tem ‘mais valor’ para elas, não necessariamente pela que é ‘mais barata’ (Grátis).’
CHINA
Frase da semana
‘‘Saiam. Nós não nos importamos’
Jess Wu, da The Chinese Founders Fund, que representa parte dos empreendedores chineses, em resposta à ameaça da Google de encerrar as suas atividades na China.
Nesta semana, a empresa de busca revelou que sofreu ataques de crackers que tentaram acessar contas do Gmail utilizadas por defensores dos Direitos Humanos na China. Apesar da Google não acusar diretamente o governo chinês, o ataque foi visto como algo político.
Segundo o jornal Washington Post, tudo, na verdade, não passaria de espionagem industrial.’
APOSTA
Jornal bonito e provocador
‘O escritor americano Dave Eggers resolveu ir fundo na ideia de que os jornais impressos devem ser mais analíticos e deixar para a internet o noticiário mais imediatista.
Em dezembro, ele colocou nas ruas o San Francisco Panorama, jornal que, de início, chama a atenção pelo seu projeto gráfico, bem atraente.
Porém, o San Francisco Panorama vai além de um jornal bonitinho. A própria produção de conteúdo é diferente, deixa o imediatismo de lado em troca de textos mais analíticos e reportagens de fôlego. O visual acompanha esse conceito.
No final, a semelhança é com uma revista semanal.
É algo experimental, quase artesanal (o jornal teve uma única edição). Mais questiona do que soluciona alguma coisa. Tem um caráter provocador.
Em entrevista ao site de mídia MediaBistro, Eggers questiona a necessidade dos jornais impressos circularem todos os dias. É mais produtivo manter uma presença online diária e uma impressa uma ou três vezes por semana, com conteúdo mais analítico, diz.
E ainda pergunta como a mídia impressa pode ser mais atrativa, não sofrer de escassez de atenção. Para ele, é fornecer conteúdo original, textos mais aprofundados, além de um visual mais arrojado.
No entanto, isso é possível, claro, não circulando todos os dias. Mudando o próprio modo de produção de conteúdo.’
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