O post anterior sobre a capa da revista New Yorker deixou no ar algumas questões que merecem ser retomadas, para aprofundar o diálogo tanto entre autor e leitores, como entre os próprios leitores:
1) Os erros na postagem anterior – Os leitores Bruno e Marcos assinalaram, muito corretamente, dois erros cometidos por mim no post sobre a charge publicada pela New Yorker. Foram erros causados por revisão deficiente, uma velha falha minha. A correção de erros deveria ser uma atividade normal porque todo mundo sabe que não existe perfeição em matéria de texto. Acontece que a longa convivência com uma relação unidirecional entre jornalistas e leitores provocou duas distorções: a do profissional que encara a correção por outros como uma ameaça a sua competência ou um arranhão no seu ego, e a dos leitores que transformam a identificação do erro num libelo contra o jornalista. A era da interatividade na comunicação está nos mostrando que nenhuma e nem outra atitudes ajudam a resolver o problema principal que é a ocorrência de erros na informação. Erros sempre existiram e continuarão a existir. São inevitáveis e esta constatação não serve como desculpa. Mas já que é assim, devemos nos preocupar ainda mais com a correção. A colaboração e interação parecem ser as ferramentas mais adequadas para melhorar a qualidade informativa em todos os canais de comunicação.
2) Relação autor/leitor – Aqui no Observatório como na esmagadora maioria dos blogs e sites jornalísticos, prevalece o hábito de selecionar o material publicado pelo seu caráter noticioso, ou seja, pelo que ele tem de novo, original ou relevante, usando como parâmetro o que se convencionou chamar de agenda ou pauta da mídia. Acontece que no momento em que o leitor começa a se incorporar no processo de produção informativa, o esquema provoca um curto circuito na cabeça dos jornalistas. Por formação, somos (eu sou um deles) levados sempre a priorizar a preocupação com a novidade. Se a matéria, ou a postagem, não contiver algo novo, suas chances de publicação caem. Mas são cada dia mais freqüentes, especialmente nos blogs, situações onde o diálogo entre leitores e autores é mais relevante do que a notícia porque ajuda a remover ruídos na interação entre ambos. Para muitos surge a dúvida: dá-se ou não destaque a um material como este? Pela rotina das redações não, mas pela lógica da incorporação do leitor, a resposta é sim. Na minha opinião, os jornalistas terão cada vez mais que considerar a segunda alternativa, porque tudo indica que a interação entre profissionais e o público parece ser a melhor ferramenta para a correção de erros tanto factuais como os de percepção (muito mais freqüentes) em conteúdos noticiosos textuais e audiovisuais.
Esta “pensata” é uma quebra na rotina de postagens aqui no Código. É uma tentativa de repensar não só a relação do jornalista com o erro informativo, mas principalmente uma pausa na correria diária para ver como está a nossa relação com o público.