Ruy Castro, entrevistado no Roda Vida da TV Cultura na segunda-feira passada (27/2), descreve a boa técnica aprimorada em importantes entrevistas feitas para a Playboy (faz algum tempo…):
– A Playboy me ensinou certas coisas. Por exemplo, não fazer mais de uma pergunta de cada vez. Se você fizer mais de uma, fizer duas, o cara só responde à segunda ou responde à que for mais conveniente. Outra coisa é, quando dá aquele “branco” entre entrevistador e entrevistado, o entrevistador não tentar preencher o branco. Deixa o branco, deixa o silêncio. O entrevistado vai sempre dizer alguma coisa que ele não queria dizer.
O mais importante que eu aprendi foi a preparação para a entrevista. Eu nunca fui para uma entrevista da Playboy com menos de 150 perguntas no papel, com todas as alternativas possíveis. As primeiras 25 perguntas, só pergunta boa, que ele vai gostar de responder. As perguntas mais importantes, mais incisivas, só a partir do número 40 ou 50, por aí, quando ele já estiver mais relaxado. E com alternativas. Pergunta 49: se ele respondeu “x”, a pergunta seguinte é tal, se responder “y”, a pergunta seguinte é outra. Ir muito preparado para qualquer eventualidade. E muitas vezes já saber a resposta de antemão e perguntar de propósito. Quando eu comecei a trabalhar nos livros, nas biografias, eu usei toda essa tarimba de entrevistador. Inclusive voltar ao entrevistado depois de seis meses e fazer as mesmas perguntas para ver se respondia igual…
Dicas tecnicamente preciosas. Mas diga, leitor, se não é uma confirmação da tese do saudoso João Rath segundo a qual não existe nada mais parecido com um policial do que um jornalista, e vice-versa. Mas quem dera todo policial fizesse o dever de casa como Ruy Castro. E fosse bom-caráter, como Ruy Castro.
Ver no blog ao lado, Verbo Solto, de Luiz Weis, ‘Quando o repórter atormenta‘.
Criminalização do trabalho intelectual
O jornalista e escritor, condenado em primeira instância numa ação movida pelas filhas de seu biografado Garrincha, fez também uma advertência séria sobre restrições decorrentes desse tipo de processo. No caso, entre outras alegações, a publicação de fotos foi objeto de contestação:
– Como vou fazer a biografia de uma pessoa sem publicar fotos dela? Eu não estou fazendo um álbum de figurinhas. Estou fazendo um levantamento da vida de uma pessoa. Esse levantamento é feito de informações, e se podem fornecer informações verbais e fotográficas. É muito estranho que isso esteja embutido num processo tão violento como esse. Lamento. Vou torcer para que numa instância superior essa decisão possa ser reavaliada, porque realmente ficou mais complicado fazer biografias no Brasil. Qualquer herdeiro, qualquer parente do biografado pode alegar isso e tornar impraticável a publicação de livros como esse.