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Por casualidade, sem qualquer investigação, foi flagrada a gênese da corrupção brasileira. A persistência e virulência da imoralidade em nosso país relacionam-se diretamente com a leniência do Judiciário. Isto ficou evidente na última semana quando o Superior Tribunal de Justiça anulou as provas coletadas pela Polícia Federal contra o clã Sarney, durante a operação Boi-Barrica.
O caso torna-se ainda mais grave quando se sabe que a divulgação destas provas contra os Sarney gerou a surpreendente mordaça imposta ao Estadão e que já dura dois anos. Também convém lembrar que o chefe do Legislativo, o senador Sarney, foi em última análise o responsável pela indicação de três dos quatro ministros demitidos pela presidente Dilma Roussef por improbidade, além de avalista dos respectivos substitutos.
A corrupção é uma deformação que não existe isolada. A corrupção necessita de uma boa base autoritária, exige um clima de ineficiência e precisa, sobretudo, de cumplicidade e segredo. Convém lembrar que o presidente do Senado, José Sarney, foi o criador dos aberrantes atos secretos usados durante anos pelos administradores da câmara alta.
A presidente Dilma Roussef está promovendo com discrição e determinação um processo de saneamento e tem sido ajudada decisivamente pela imprensa, já que os quatro ministros demitidos por corrupção foram denunciados pelos jornais.
Mas a imprensa parece embalada nas suas façanhas e glórias e esquecida de que, além de denunciar um malfeitor e noticiar a sua punição, cabe a ela acompanhar pacientemente os desdobramentos de cada caso até o ressarcimento total dos prejuízos causados ao erário. A crise moral em que nos encontramos oferece uma formidável oportunidade para a revolução ética que muitos prometeram mas ninguém teve a coragem de começar.