Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Da China para o mundo

Junto a um jardim, e sobre o piso de uma rua pavimentada em pedra, um grupo de jovens executa acrobacias em patins, à volta de pequenos cones de cor verde fluorescente alinhados no chão. Tal como a multidão de jovens e adolescentes que vi no dia anterior num canal de televisão aplaudindo um rapper chinês, estes patinadores fazem parte da nova geração de cidadãos da nova China que procuram aceitar os hábitos e costumes vindos do exterior numa sociedade que busca conservar os traços essenciais da sua cultura milenar.

Através das paredes em vidro da sala de oito ângulos, onde nos encontramos a tomar o café da manhã, podemos visualizar a parte da frente de um edifício de alojamento de dez andares e, à esquerda deste, outro com as mesmas dimensões onde está instalada uma área de formação em audiovisuais, incluindo dois modernos conjuntos de estúdios e salas de montagem para rádio e televisão.

A sala de oito ângulos está situada ao meio de um corredor que liga os dois edifícios. Em baixo, entre os dois prédios, existe um bem cuidado jardim decorado com um pequeno lago que alberga uma fonte luminosa e em cuja cabeceira se situa uma cascata artificial. Mais adiante há um edifício de quatro andares, em obras de restauro, e um moderno recinto desportivo que comporta campo de futebol relvado, campos para basquete e outras modalidades desportivas e área equipada com aparelhos de ginástica.

Estamos na Universidade de Comunicação Social de Pequim, instituição com capacidade para albergar até 15 mil estudantes e vocacionada a formar os quadros cuja missão consiste em fazer o mundo conhecer a China e a China conhecer o mundo. Ministrando cursos na área da comunicação social, gestão, relações internacionais e línguas, entre outros, esta instituição foi escolhida para albergar o primeiro simpósio internacional de comunicação social, entre a China e os países de língua portuguesa.

A escolha não podia ter maior merecimento: a Universidade tem um curso de língua portuguesa, cujos estudantes e professores vão, durante os 15 dias do colóquio, trabalhar e conviver com 24 profissionais da comunicação social que trabalham e vivem falando a mesma língua.

O colóquio, um projecto de ajuda do governo da República Popular da China aos países de língua oficial portuguesa, faz parte das acções de acompanhamento do Secretariado Permanente do Fórum para a Cooperação Econômica e Comercial entre a China e estes mesmos países, estabelecido em 2002.

Carteira profissional

A universidade, localizada nos arredores de Pequim tem o seu campus instalado entre duas importantes avenidas que entram na grande capital pelo sentido Oeste-Leste. Além disso, está a escassos metros de uma estação da linha 2 do metrô. Atravessando qualquer uma das duas avenidas, tem-se acesso a duas áreas residenciais suburbanas, onde os blocos de edifícios de até seis andares predominam, ladeados de prédios mais altos, casas comerciais de um só piso e modernos centros comerciais que fazem notar os sinais de modernismo cada vez mais para fora da grande urbe que é Pequim.

Os governantes chineses da nova geração definiram a comunicação social como um meio de divulgação nos dois sentidos, de fora para dentro e vice-versa, princípio que veio substituir a velha definição que apontava a comunicação social como um meio de propaganda, afastando assim esta actividade profissional da conotação pejorativa que ganhara desde os tempos do Ministério da Propaganda de Hitler.

Esta opção justifica-se pois a China ainda é um país desconhecido para muita gente. O que a maioria das pessoas pelo mundo sabe acerca desse país asiático remonta aos anos 1960 e 1970.

A Universidade de Comunicação Social da China é uma das instituições do ensino superior com a responsabilidade de formar quadros para um universo de emissoras de rádio que atingem 94% da população, uma rede de emissores de TV que serve 95% dos habitantes do país, além de possuir dois canais para o exterior (um em inglês) e estações de TV por cabo que trabalham para 100 milhões de telespectadores. A ICC (International Communication Center) forma ainda quadros para o cinema, a imprensa e novas tecnologias de comunicação.

A universidade que albergou o Simpósio de Comunicação Social entre a China e os países falantes da língua de Camões tem a particularidade de ser multidisciplinar, pois forma igualmente quadros superiores nos domínios das artes, engenharia, gestão, ciências, economia, línguas e direito, para o universo da Comunicação Social da República Popular da China que emprega actualmente 700 mil funcionários, 20% dos quais são profissionais de jornalismo. Mas a obtenção da carteira profissional de jornalista só é conferida pela Associação de Jornalistas após o finalista ter aprovado no exame de âmbito nacional conduzido por esta instituição.

Educação à distância

Com mais de 50 anos de experiência, a Universidade de Comunicação Social da China foi estabelecida em março de 1954 e é hoje uma instituição acadêmica de topo que definiu como objectivo tornar-se num centro de formação de talentos altamente qualificados no domínio da investigação científica em informação e comunicação, importante ponte de ligação entre a cultura chinesa e a civilização mundial, como explicou Gu Tiejum, professor de estudos sobre cinema.

Desde 1981 é uma das primeiras universidades chinesas a poder conferir mestrados a partir de 1988 passou a conferir doutoramentos.

A área construída da universidade foi aumentada para mais de 440 mil metros quadrados de edifícios quando, em agosto de 2004, a Universidade de Minas e Tecnologias se juntou ao antigo Instituto de Radiodifusão. O seu quadro docente conta com 847 profissionais, entre os quais se podem contar 200 jovens em início de carreira, 80 académicos e 30 peritos de renome mundial. No presente ano lectivo, estudam neste centro 13 mil e 978 estudantes, dos quais dois mil e 490 para pós-graduação ou doutoramento. Mil destes estudantes são estrangeiros

A área de apoio conta com sofisticados laboratórios, uma rede multimídia, com transmissão digital por cabo, e uma moderna biblioteca digital, com mais de um milhão de livros. O departamento de jornalismo está dotado de cinco laboratórios e quatro centros de pesquisa, atendidos por 54 professores.

Para atender às necessidades dos que não podem ir até à escola a Universidade de Comunicação Social de Pequim criou em 1994 um Centro de Ensino à Distância que serve seis mil estudantes.

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Jornalista do Jornal de Angola