Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A Amazônia devastada não diminuiu: aumentou menos

Impossível subestimar as dificuldades do jornalismo em manusear números. Nos diários de hoje, a enésima-milionésima prova disso.

“Área devastada da Amazônia tem redução de 31%, diz governo” (Estado). “Devastação tem queda de 30% na Amazônia” (Folha). “Desmatamento na Amazônia reduziu 30,5%” (Globo).

Não, o problema não são os 31% do Estado, nem os 30% da Folha, nem os 30,5% do Globo. Nem mesmo, neste último caso, o erro de português: o desmatamento não “reduziu”; ou se reduziu, ou foi reduzido.

O problema é levar o leitor a pensar que o desmatamento na Amazônia caiu tantos ou quantos por cento. Na realidade, o que aconteceu foi que o ritmo de desmatamento diminuiu entre 2003/2004 e 2004/2005.

No período 2003/2004 a área devastada era de 27,2 mil quilômetros quadrados, ou 10,6% maior do que no biênio precedente. No período 2004/2005, a área devastada continuou a aumentar, porém menos: os novos 18,9 mil quilômetros quadrados desmatados representam uma diminuição de 30 qualquer coisa por cento em comparação com o que tinha sido apurado no biênio precedente.

Queda de verdade no desmatamento só haveria se, por milagre, em 2004/2005 a área florestal da Amazônia tivesse aumentado em relação à de 2003/2004.

É a mesma coisa com a inflação e os preços. Quando estes aumentam, aumenta a inflação. Se passaram a aumentar menos, a inflação aumenta menos, mas aumenta. Só quando os preços diminuem, em dinheiro, não em porcentagem, é que se pode dizer que no período não houve inflação, mas deflação.

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