Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

No Estadão, uma boa idéia e um frangaço

No que deve ser a primeira inicativa do gênero na imprensa, o Estado propõe hoje que, na reta final da campanha, a mídia impressa publique a lista dos candidatos ‘comprovadamente corruptos ou alvejados por robustas acusações nesse sentido’, numa alusão a mensaleiros e sanguessugas.


O jornal chega a dar uma sugestão prática: ‘O ideal será agrupá-los por Estado, para facilitar a vida dos cidadãos que desejarem guardar o rol dos infames junto com o seu título de eleitor.’


É esperar para ver se os diários de maior circulação, nacional ou regional, terão o espírito público necessário para adotar essa boa idéia.


É torcer também para que se confirme a previsão do jornal de que ‘mais próximo da eleição, se intensificará a circulação, na internet, dos nomes que fizerampor merecer o repúdio dos brasileiros’. O Estadão assinala que ‘mesmo no Brasil já é impossível subestimar o efeito bola-de-neve do que corre pelos sites, blogs, redes de relacionamentos e e-mails’.


No que diz respeito aos sanguessugas do Rio, porém, talvez a lista nem seja necessária, se a Justiça Eleitoral do Estado cumprir o que prometeu ontem – fornecendo a manchete de hoje do Globo – o presidente do TRE, Roberto Wider.


Ele pretende usar as informações da CPI dos Sanguessugas no julgamento de processos de registro de candidaturas ‘para vetar candidatos sabidamente ruins’, em nome da ética na política.


Dos 72 parlamentares acusados de vampirismo (69 deputados e três senadores), 13 são fluminenses. Destes, oito querem de novo voto do povo em outubro. São eles:


Almir Moura e Laura Carneiro, do PFL; Elaine Costa e Fernando Gonçalves, do PTB; Reinaldo Betão e Reinaldo Gripp, do PL; Carlos Nader, do PP; e Paulo Baltasar, do PSB.


P.S. Da série ‘Lesando o leitor’


O prato eleitoral do dia é o quebra-quebra entre tucanos e pefelistas, consultores e marqueteiros, na campanha de Geraldo Alckmin.


‘PFL critica campanha de Alckmin na TV’, informa a Folha. ‘PSDB e PFL ameaçam intervir nos Estados’, mancheteia o Globo, falando dos candidatos da coligação a governador e deputado que têm ‘esquecido’, diz o jornal, de mostrar Alckmin no horário eleitoral. Mais forte é o título do Estadão: ‘Aliados abandonam Alckmin e campanha tucana entra em crise’.


Na cobertura da ‘crise’, o jornal publica uma entrevista com o senador Antonio Carlos Magalhães, assinada pela repórter Christiane Samarco. Coerente com o que é, ele critica o candidato por ‘não bater no Lula’ no seu tempo de propaganda. ‘Ou bate ou tira logo esse programa do ar’, reclama ACM.


Até aí, tudo bem. Opinião é opinião. Mas o manual do ofício manda não deixar que passem batidas afirmações de entrevistados que atropelem grosseiramente os fatos, porque isso equivale a lesar o leitor.


Pois a certa altura do pingue-pongue, ACM diz que os parlamentares cooptados para a base aliada pelo valerioduto e mensalão são ‘coincidentemente todos sanguessugas‘. E a entrevista segue, sem que a repórter, ou quem pôs o texto na página, puxasse o frio de mão.


Não é possível que eles não saibam que o relatório conjunto das CPIs dos Correios e do Mensalão pediu a cabeça de 18 deputados. Destes, só dois – Pedro Henry, do PP de Mato Grosso e Wanderval Santos, do PL paulista – também figuram entre os 72 acusados de corrupção pela CPI dos Sanguessugas. Em suma, um frangaço.


Tem mais. Depois de ouvir o destampatório do senador contra a linha da propaganda de Alckmin, a repórter pergunta: ‘Com esse discurso sereno e morno dá para ganhar a eleição?’


Cumá? Entrevistador não é pago para encampar posições de entrevistado, enfiando juízos de valor numa pergunta que levanta a bola para ele e induz o leitor a achar que o que lê é a pura verdade.


Faltou à repórter o cuidado elementar de formular a pergunta mais ou menos assim: ‘Com esse discurso, que o senhor considera sereno e morno, dá para ganhar a eleição?’


Azar do leitor. 


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