Foram impressos pela Empresa Gráfica da Bahia (Egba) apenas 200 exemplares do fac-símile do Diccionario de termos graphicos, do tipógrafo baiano Arthur Arezio da Fonseca, cuja primeira edição saiu em 1936 pela Imprensa Oficial do Estado (IOE), quando ele era o diretor industrial dessa instituição inaugurada pelo governo da Bahia em 7 de setembro de 1915. No início deste mês, a Egba, denominação dada à IOE a partir da década de 1970, encerrou as comemorações dos seus 95 anos e festejou a repercussão que tem dito fac-símile do Diccionario de Arezio.
A obra, acondicionada numa caixa de design afim com a capa original do Diccionario, é acompanhada de plaqueta ilustrada contendo informações sobre o autor e sobre ela. O Diccionario de termos graphicos é a primeira obra dessa natureza em idioma português e o seu autor, nascido em 1873 em Salvador, é o primeiro empregado da IOE. Tão logo a Imprensa Oficial foi criada pelo governador J. J. Seabra, em 1912, Arthur Arezio, gráfico reconhecido pela sua capacidade de trabalho e inteligência, foi distinguido com o convite para observar o funcionamento da Imprensa Nacional, no Rio de Janeiro, porque se pretendia aplicar esse modelo à nova instituição baiana. O relatório dessa visita foi fundamental para a definição dos equipamentos e a organização dos espaços do amplo prédio que a abrigou na rua da Misericórdia, no centro da capital, no início de seu funcionamento.
Revisão povoada de estudantes
Arthur Arezio da Fonseca, em 1912, já possuía variada folha de serviços prestados como tipógrafo, editor, empresário e pesquisador. Publicara dois livros, Serões typographicos (1905) e Esboço typographico (1907), esse último contendo alguns verbetes relativos à atividade gráfica. Desde os primeiros anos do século 20, ele reunia verbetes com o propósito de publicar o seu dicionário. Todavia, esse exaustivo apanhado, fruto de consultas a livros e revistas nacionais e estrangeiras e conversas com colegas do ramo, foi perdido. Recomeçou do zero e somente em 1936 publicou o seu Diccionario de termos graphicos (formato 17×12 cm.) com 574 páginas e 3.114 verbetes. O livro recebeu o reconhecimento dos contemporâneos e o Prêmio Caminhoá. O Diccionario oferece a oportunidade de reconstituir o vocabulário técnico e as gírias utilizadas no ambiente das oficinas gráficas. Por exemplo: capilla era a porção de livros ou periódicos que os operários recebiam como gorjeta pela impressão de uma obra; cascavéis eram as letras que caíam da forma, ‘abrindo janellas‘ na composição; diamantes eram as pequeníssimas letras de uma composição microscópica; e mocho era ‘o banco ou assento, quadrado e sem encosto, usado nas oficinas para descanso dos operários’.
O Diccionario é o terceiro livro que a IOE publicou de Arthur Arezio da Fonseca. Em 1917, lançara Machinas de compor, obra ilustrada e que causou contrariedade aos antigos tipógrafos que eram contrários à adoção das linotipos e assemelhadas. Em 1925, saíra Revisão de provas typographicas, talvez a obra de maior circulação desse autor porque naquela época a revisão das oficinas tipográficas era povoada de jovens estudantes de Medicina, Direito e Engenharia que dali tiravam algum para o sustento dos estudos universitários na capital baiana. Todos apreendiam a arte no livro de Arthur Arezio.
Títulos importantes
Além da terminologia técnica e gírias utilizadas nas oficinas gráficas naquela primeira metade do século 20, utilizadas possivelmente desde à segunda metade do século 19, o Diccionario de Arthur Arezio tem o mérito de perfilar grandes nomes da história mundial das Artes Gráficas, mas, sobretudo, destacar nomes de tipógrafos que contribuíram, por exemplo, para a criação da Associação Typographica Bahiana. Ele nos informa, na página 291, a respeito do tipógrafo Hypolito Cassiano de Miranda que tivera a iniciativa de publicar a obra do coronel Ignacio Accioly, Memória história e política da província da Bahia. Conseguiu publicar o primeiro volume.
‘Tentando publicar o segundo volume – informa Arthur Arezio na página 292 do seu Diccionario –, recorreu à representação estadual, por lhe faltar recursos pecuniários, à qual apresentou projecto concedendo [sic] um auxílio de 6.000$0000 [seis contos de réis] para a impressão da obra. Mas Hypolito, combalido em sua saúde, não logrou ver aprovado aquele projecto, fallecendo ainda moço e exercendo a profissão do Diario de Noticias‘. Coube a Arthur Arezio, na chefia das oficinas da IOE, retomar o projeto de Hypolito de Miranda. Com notas do historiador Braz do Amaral, os seis volumes das Memórias Históricas, de Accioly, foram publicados entre 1919 e 1940, ano da morte do autor do Diccionario de termos graphicos.
A Empresa Gráfica da Bahia, outrora denominada de IOE e, depois, de IOB (Imprensa Oficial da Bahia), possui importantes títulos no seu fundo editorial, publicados, sobretudo, entre 1915 e 1965, portanto no seu primeiro cinquentenário de existência. Assim como a obra de Arthur Arezio, que caiu em domínio público desde janeiro do corrente ano, outras também estão na mesma situação e reclamam novas edições, como é o caso dos seis volumes das Memórias, do coronel Ignacio Accioly, fundamentais para o estudo da história do Brasil e da Bahia. Em 2015, a Egba completará o primeiro centenário. Que ela não tarde a tomar providências que abrilhantem a festa que se aproxima.
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Jornalista, produtor editorial e professor universitário, autor de Nome para compor em caixa alta: Arthur Arezio da Fonseca (Salvador: Egba, 2005)