Morreu ontem, aos 90 anos, o poeta Gerardo Mello Mourão.
Hoje, ao noticiar o falecimento, o Globo omite que Mourão pertenceu à Ação Integralista, os camisas-verdes do arremedo de Fuhrer Plínio Salgado, e que foi condenado à morte, durante a guerra, como espião nazista no Brasil. [A pena foi comutada para 30 anos de prisão. Ele acabou cumprindo menos de seis, libertado em 1948].
O Estado se limita a informar que Mourão ‘esteve preso diversas vezes, por razões políticas, durante o Estado Novo (1937-1945) e a ditadura militar iniciada em 1964’ e que ‘a sua passagem mais longa pela cadeia durou quase seis anos, entre 1942 e 1948’. Nenhuma palavra sobre a condenação por espionagem.
A Folha, onde Mourão trabalhou como correspondente em Pequim, no começo dos anos 80, teve a decência de não omitir a história. Lembra até que ‘em 1977, no livro Suástica sobre o Brasil, o brasilianista Stanley Hilton acusaria o escritor de ter participado de uma rede de espionagem nazista no país’.
[Quando o livro saiu, o jornalista Zuenir Ventura, então na Veja, foi atrás do alemão citado por Hilton como o contato do espião no Rio e que Mourão dizia desconhecer. Perguntado se o conhecia, o homem abriu um sorriso na hora e perguntou: ‘Ah, como vai o Gerrrardo?…’]
Mas todo o bom serviço da Folha vai por água abaixo quando o autor do texto não assinado escreve que o integralismo [organização que macaqueava o fascismo italiano, com uma ala abertamente nazista e anti-semita, liderada pelo infame Gustavo Barroso] era apenas e tão somente um ‘movimento nacionalista, com traços de direita‘.
Os integralistas ajudaram a implantar o Estado Novo. O pretexto para extinguir a democracia da Constituição de 1934 foi um documento apócrifo sobre um suposto projeto de comunização do Brasil, sintomaticamente intitulado ‘Plano Cohen’, no espírito dos Protocolos dos sábios de Sião, forjado na Rússia ainda czarista.
Quem o escreveu foi o capitão do Exército e camisa-verde assumido Olímpio Mourão Filho. O papel foi divulgado como autêntico em setembro de 1937. Em novembro, Getúlio fechou o Congresso e instaurou a ditadura, com o apoio do todo-poderoso ministro da Guerra, general Pedro Aurélio de Goes Monteiro, simpatizante da Alemanha hitlerista. [Em 31 de março de 1964, Mourão, comandante militar em Minas, daria início ao golpe contra o presidente João Goulart. Mais tarde, numa entrevista, definiu-se como ‘vaca fardada’.]
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