Enquanto a agricultura empresarial “patina’’ em dívidas e dúvidas sobre seu futuro, como mostrou o Congresso da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag) na semana passada em São Paulo, a agricultura familiar começa a abrir novas frentes de negócio e diversificar suas atividades. É o que mostra a reportagem da Folha de hoje (pág. B-12), de autoria de Mauro Zafalon.
Natural de Sertaneja (PR), onde sua família cultiva milho e soja numa pequena propriedade agrícola, Zafalon tem a agricultura (e o jornalismo) no sangue. Sempre quando pode, ele deixa a Redação da Folha em São Paulo para conferir no campo como andam as coisas nos sertões do País. É um dos poucos repórteres que ainda usa os olhos, não apenas os ouvidos (ou o telefone).
De Agudos (SP), a 330 km de São Paulo, onde se realizou a 4ª AGRIFAM, feira da agricultura familiar promovida pela Fetaesp, Zafalon traçou um cenário bem menos pessimista do setor rural do que o vivenciado pela chamada agricultura comercial, atropelada pelo câmbio e pela redução dos preços agrícolas no mercado internacional, entre outros problemas.
O Brasil sempre deu às costas para o seu interior, e a grande imprensa não foge à regra, ao analisar o Brasil Rural com uma visão totalmente urbana. Com uma simples visita à feira de Agudos, Zafalon conseguiu dar um cor diferente à edição desta terça-feira do caderno Dinheiro da Folha. Em meio à crise que domina o setor agropecuário brasileiro, os pequenos agricultores desenvolvem projetos interessantes como miniusinas para produção de álcool e biodiesel, produção de alimentos orgânicos, ecoturismo e parcerias com supermercados para fornecimento de frutas e verduras.
Dados do Pronaf, mostram que a agricultura familiar tem capacidade de absorver mão-de-obra e gerar renda. Os agricultores familiares são responsáveis por 67% da produção nacional de feijão, 97% do fumo, 84% da mandioca, 31% do arroz, 49% do milho, 52% do leite, 59% de suínos, 40% de aves e ovos, 25% do café, e 32% da soja.
A agricultura familiar ocupa 30,5% da área total dos estabelecimentos rurais, produz 38% do Valor Bruto da Produção (VBP) nacional e ocupa 77% do total de pessoas que trabalham na agricultura. Não é pouco.
A mesma edição da Folha que traz a feira dos pequenos em Agudos, mostra, à página B 10, as conseqüências da crise dos grandes da agricultura. A produção de máquinas agrícolas, no país, de janeiro a julho, caiu 19% em relação ao mesmo período de 2005. Por isto mesmo, algumas empresas de máquinas e equipamentos já estão redirecionando a sua produção, buscando fornecer produtos também aos pequenos agricultores.