”Isso tudo a investigação vai esclarecer”. Uma, duas, cinco, dez vezes o presidente do PT, José Genoino, se refugiou nesse mantra para não responder ao fogo cerrado dos entrevistadores do Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo, agora há pouco.
Não convenceu nem os que os chamavam de “você”, nem os que, mais profissionalmente, o chamavam de “senhor” ou “presidente”.
Eu estou respondendo de bate-pronto, disse Genoino em dado momento. Domingo um dos motivos que alegou para o adiamento para esta terça da reunião de emergência da cúpula do partido foi que ele precisava se preparar para o Roda Viva.
A sensação, já ao fim do segundo bloco do programa, era a de que a entrevista parecia uma roda girando em falso. Genoíno nada admite e tudo rebate. No limite, apela: “Você tem que dar crédito ao governo.” Tem que, por quê? Isso não lhe perguntaram, mas se o tivessem feito, a resposta, podem apostar, seria: “A investigação vai mostrar.”
O problema, para os jornalistas, era que o presidente do PT, além de ser bom de boca e de ter ouvido seletivo, como qualquer político competente, sabia onde se segurar: afinal, por mais veementes que sejam os indícios, por mais eloquentes as coincidências, o fato é que continua a ser a palavra de Roberto Jefferson contra a dele.
E como a melhor defesa é o ataque, a folhas tantas Genoino investiu contra acusações crônicas ao governo petista: aparelhamento, excesso de cargos de confiança… Valeu até sacar um papel do bolso (“eu sabia que vocês iam me perguntar isso”) e falar à velocidade de 180 rotações por minuto. Valeu não deixar passar batido nem o menor vacilo ou equívoco de uma pergunta. E valeu, em um ou outro momento crítico, ter números firmes para responder a críticas genéricas.
No fim, a melhor dos entrevistadores, Eliane Cantanhêde, da Folha de S.Paulo, não resistiu quando Genoino mencionou a reforma tributária como um dos temas do possível diálogo “alto” do governo com a oposição. “Ah, vamos falar sério”, apelou. “Vamos pensar no público. Estamos na maior crise, o ministro da Casa Civil renunciou, e o senhor vem falar de reforma tributária?”
Mais disse, mais lhe foi perguntado. Ficou o “desabafo” de Genoino contra o “poço de ressentimento” que ele identifica nos ataques ao PT do ex-petista Fernando Gabeira. E, no fecho, a memória em carne viva, já às lágrimas, dos suplícios por que passou nos cinco anos em que esteve preso nos anos 70. Esse é o Genoino que não tergiversa.
Foi quando a roda girou mais forte. Uma só vez.