Duas vezes nos últimos dias a colunista Dora Kramer, do Estado, como que desafiou o casal do Jornal Nacional a não dar mole com o candidato Lula, tratando-o como trataram o oponente Geraldo Alckmin.
Agora talvez ela se sinta tentada a dizer que as suas provocações funcionaram. Na biblioteca do Palácio da Alvorada – o cenário de gravitas feito sob medida para impor respeito –, William Bonner (mais) e Fátima Bernardes (menos) passaram longe de qualquer coisa parecida com temor reverencial e deram uma aula de como sabatinar um político em parcos 11 minutos, sem perder a boa educação jamais.
Mas eu não atribuiria o desempenho da dupla, ontem à noite, a qualquer cobrança prévia. Eles simplesmente se desmoralizariam, e ao Jornal Nacional, e à cobertura superlativa da campanha prometida em anúncios de página dupla pela Rede Globo, se tratassem o presidente com benevolência.
Levou tempo, mas a Globo aprendeu que o povo não é bobo: mesmo os eleitores de Lula reprovariam os jornalistas e a emissora se evitassem encostar o presidente na parede. Aliás, com a palavra tensão escrita em letras maiúsculas no rosto, desde a primeira tomada, o presidente deixou claro que esperava exatamente o que viria em seguida.
A contração estampada na sua fisionomia foi a melhor homenagem que poderia prestar ao bom jornalismo das estrelas do JN.
P.S. Da série ‘O jeito errado de informar’
Se a intenção da mídia ao apresentar a lista dos 72 parlamentares sanguessugas acusados pela CPI é alertar o eleitor para quem é quem nas malfeitorias do Congresso – e que outra intenção poderia haver? – apresentar os nomes dos malfeitores agrupados por partidos é um erro. Incomparavelmente mais eficaz seria agrupá-los por Estado. Essa a informação mais relevante em ano eleitoral no país em que a esmagadora maioria das pessoas, em todos os Estados, vota em nomes e não em siglas.
P.S. Da série ‘Ah, essa falsa cultura’
Matéria assinada por Expedito Filho no Estado de hoje sobre os bastidores da escalação do time de vampiros [‘Uma noite em claro para evitar a renúncia do relator’] atribui em dado momento ao deputado Fernando Gabeira a ironia ‘Isso aqui vai ser tranquilo como a noite de São Bartolomeu’ – e se apressa a esclarecer o leitor que o comentário era ‘uma referência ao episódio sangrento da Revolução Francesa em que os protestantes foram massacrados‘. Mon Dieu! A revolução é de 1789. O massacre, de 1572. Se o repórter, que pelo visto faltou à aula naquele dia, tivesse tido ontem o cuidado elementar de digitar ‘noite de são bartolomeu’ no Google, em 5 segundos teria prevenido o vexame.
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