Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.
Os cinco Oscars recebidos pelo filme "O Artista" e os outros cinco pelo filme "Hugo Cabret" não podem ser vistos apenas como homenagens da indústria do cinema a si mesma.
As duas películas têm um valor adicional que não pode ser minimizado. "O Artista", especialmente, é uma inspirada alegoria à perenidade da arte, de todas as artes, sobretudo quando ameaçadas pelas inovações tecnológicas.
A história gira em torno de um consagrado ator do cinema mudo que não consegue adaptar-se ao cinema sonoro. O inevitável final feliz chega através da dança (que era outra das habilidades do ator). A mensagem é clara: quando a obra de arte é autêntica, ela supera todos os desafios impostos pelo progresso.
O jornalismo-arte também está sendo ameaçado pela tecnologia e pelo jorro informativo produzido pela internet, mas ao contrário da indústria cinematográfica, a indústria jornalística não tem auto-estima. Não gosta do que faz. E não vê outra saída a não ser prever o fim de si mesma ou do veículo que a glorificou ao longo de mais de quatro séculos: o jornal impresso.
"O Artista" é uma produção francesa com direção e elenco francês sobre uma indústria cujo nascimento na França é retratado pelo outro premiado "Hugo Cabret", porém realizado com todos os recursos tecnológicos de última geração americanos.
A verdade é que o cinema gosta de si mesmo e por isso agrada há tanto tempo nos quatro cantos da terra. O jornalismo, a imprensa, precisa ser mais gostada, mais venerada e, sobretudo, mais cuidada por todos os que estão nela envolvidos – dos repórteres aos empresários.
Quando a imprensa puder gabar-se do que faz, então teremos obras parecidas com "O Artista" mas com outro título – "O Jornalista".