Na resposta à nota da Associação Nacional de Jornais (ANJ) repudiando a iniciativa da Petrobras de publicar no seu novo blog respostas a perguntas da imprensa antes da sua publicação, a empresa esclareceu detalhadamente um ponto da maior gravidade.
Segundo a ANJ, “os e-mails de resposta da assessoria [de imprensa da Petrobras] incluem ameaças de processo no caso de suas informações não receberem um ‘tratamento adequado’.”
Ainda segundo a entidade, “tal advertência intimidatória (…) configura uma violação do direito da sociedade a ser livremente informada, pois evidencia uma política de comunicação que visa a tutelar a opinião pública (…)”.
A empresa explicou que a presumível ameaça consiste numa “mensagem de segurança padrão e automática (…), veiculada há anos na correspondência eletrônica a partir do correio eletrônico da Petrobras, por todos os funcionários da empresa. (…) A mensagem é destinada principalmente aos empregados da empresa. (…) O foco interno fica bem claro na citação às normas internas do Sistema Petrobras e na menção a sanções disciplinares, o que só é possível adotar em relação a funcionários.”
Foi como se a Petrobras não tivesse dito uma palavra sobre o assunto, a julgar por um editorial publicado nesta quarta-feira, 10, que reproduz – e endossa – a passagem da nota da ANJ. Repetindo: como se a “advertência intimidatória” fosse o que a associação acha que é, sem ter sido contestada pela estatal.
Mas nessa história não há inocentes.
A Petrobras também pisou no tomate ao publicar no seu blog, sem responder, as perguntas do Estado de S.Paulo sobre o valor e outros dados do contrato por ela assinado com uma consultoria de comunicação para auxiliá-la no curso da CPI aberta no Senado a respeito de alegadas irregularidades cometidas pela estatal.
Se a empresa prefere calar sobre o assunto é problema dela. Mas a divulgação no blog de perguntas não respondidas é indefensável, mesmo quando se considera que ela tem o direito de publicar respostas a questões sobre as quais foi provocada pela mídia antes que saiam no veículo que as fez.
De quebra, a atitude da Petrobras nesse episódio deixou a pé o secretário executivo da Secretaria da Comunicação de Governo, o jornalista Ottoni Fernandes Jr. Em defesa da estatal, ele tinha dito:
“A decisão é de pôr lá [no blog] as respostas e não as perguntas dos repórteres. Se publicassem as perguntas, poderia sim quebrar a liberdade de trabalho de cada um, porque daria a pista para a reportagem que cada jornal está fazendo.”
Que diria ele então de a Petrobras publicar as perguntas e não as respostas?
[Leia, neste blog, ‘Mídia e Petrobras se estranham’].
P.S. Acabou o problema [Acrescentado às 16h10 de 10/6]
Do blog da Petrobras, com data de hoje:
‘Perguntas dos jornalistas e respectivas respostas da Companhia continuarão a ser publicadas no blog e, a partir de hoje, por volta das 0:00h do dia da publicação da matéria, data que normalmente é informada pelo jornalista. [Itálicos acrescentados].