Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Apple lança serviço de assinatura

A Apple lançou ontem seu tão esperado serviço de assinatura para revistas, jornais, vídeos e músicas – uma jogada que pode mudar a sorte de serviços bem-sucedidos, como Netflix e Hulu. O serviço da Apple permite à companhia ficar com 30% do que o cliente paga a qualquer empresa presente em sua loja virtual de aplicativos, a App Store, incluindo grandes nomes como o jornal The New York Times, a Netflix, de entrega de vídeos, ou o popular serviço de música Raphsody.

As companhias jornalísticas e de conteúdo podem determinar o preço e a duração da assinatura. Também podem oferecer assinaturas por meio de seus próprios sites, mas terão de oferecer as mesmas condições a qualquer um que assinar as publicações na Apple. Em outras palavras, os clientes que quiserem assinatura de uma conta de vídeo no Netflix terão duas alternativas: poderão fazê-lo por meio do site da Netflix, com a empresa ficando com o valor total; ou assinar o serviço por meio de aplicativos em seus iPhones ou iPads, que custarão à Netflix 30% da tarifa.

Ao lançar o serviço, a Apple dá outro passo ousado para garantir um papel mais relevante no futuro da mídia digital. Até agora, a Apple convidava empresas de mídia como a Netflix a criar aplicativos para seus iPhone e iPad, mas sem ficar com participação financeira. ‘É a Apple mostrando seus músculos e tentando reforçar não apenas a força do iPad e do ambiente de aplicativos, mas também o ecossistema de pagamentos do iTunes’, disse o analista Yair Reiner, da empresa de investimentos Oppenheimer. ‘Com o tempo, isso ameaça irritar os produtores de conteúdo e programadores de aplicativos e pressioná-los um pouco a buscar outras soluções.’

Planos do NYT podem mudar

A Apple dará prazo até o dia 30 de junho para que as empresas se adaptem às novas regras. O serviço de assinatura é uma grande ruptura em relação à prática anterior, parecida com as vendas de banca de jornal, pela qual cada edição de uma revista, por exemplo, é comprada separadamente. A Apple também fica com 30% do valor de venda nesse caso.

As empresas jornalísticas apostam que a simplicidade do sistema da Apple ajudará a ampliar as vendas das publicações, compensando qualquer perda que possam ter com o compartilhamento da receita. O New York Times atualmente tem um aplicativo gratuito para o iPad na loja on-line iTunes, pelo qual oferece uma seleção de artigos. Isso pode mudar em breve, com os planos do jornal para começar a cobrar por parte de seu conteúdo no site NYTimes.com e no seu aplicativo.

Como as informações serão usadas

Houve meses de debates entre as empresas de conteúdo sobre a política da Apple e se isso as colocaria à mercê de uma das mais poderosas empresas de tecnologia do mundo, deixando-as na mesma posição desconfortável das gravadoras. As companhias não poderão, por exemplo, colocar links para seus próprios sites dentro dos aplicativos. ‘Quando a Apple trouxer um novo assinante para o aplicativo, a Apple fica com participação de 30%; quando a empresa trouxer um assinante novo ou já existente ao aplicativo, ela fica com 100% e a Apple não ganha nada’, disse o executivo-chefe da Apple, Steve Jobs, em comunicado. Jobs está atualmente de licença do cargo.

O que fazer com os dados dos clientes foi um dos principais pontos de discussão na preparação do serviço de assinatura. O atual plano permitirá ao consumidor decidir o volume de informações que será fornecido às empresas de conteúdo ao fazer as assinaturas.

Como essas informações serão usadas ficará a cargo das empresas de conteúdo, que são particularmente zelosas quanto aos dados dos assinantes – como nomes e cartões de crédito –, porque isso as ajuda a atrair anunciantes e a vender produtos aos leitores. A decisão de lançar o serviço de assinatura chega poucas semanas depois de a Apple se aliar à News Corp. para oferecer o jornal The Daily, que foi o primeiro produto por assinatura disponível na loja iTunes. No lançamento do Daily, ocorrido no início do mês, a Apple deu indicações de que em breve anunciaria serviços de assinatura de outros criadores de conteúdo.

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Modelo gera dúvidas para companhias jornalísticas

Gustavo Brigatto

O modelo de assinaturas lançado pela Apple pode ser considerado uma alternativa para as empresas jornalísticas ganharem dinheiro no mundo digital. Mas as regras para vender estão gerando polêmica. As companhias temem ficar reféns do fabricante assim como aconteceu com as gravadores e o iTunes.

A principal discussão diz respeito aos registros dos usuários que optaram pela assinatura digital. Nas primeiras discussões sobre o modelo, a Apple sinalizava que não entregaria às empresas jornalísticas as informações sobre os clientes que pagaram pelo serviço. Pelas regras divulgadas ontem, a Apple deu ao consumidor a opção de informar, ou não, sobre a assinatura.

‘Engatinhando no modelo de negócios digitais’

Na avaliação de Sílvio Genesini, presidente do Grupo Estado, e coordenador do comitê de estratégias digitais da Associação Nacional do Jornais (ANJ), isso cria um problema para o setor. ‘Precisamos saber quais os produtos a que o leitor tem acesso para nortear o relacionamento que mantemos com ele’, diz. De acordo com o executivo, a ANJ discutirá as regras da Apple nesta semana.

Para Murilo Bussab, diretor de circulação e marketing do Grupo Folha, a fabricante já atendeu a um pedido das empresas ao permitir que assinaturas vendidas fora da App Store possam ser usadas para acessar conteúdo dentro dos aplicativos, o que tornaria o modelo mais justo. Adriana Morrone, diretora de mídias digitais da Editora Três, diz que é cedo para discutir se o modelo de assinatura em dispositivos portáteis se tornará uma realidade no Brasil. ‘Nem sabemos quantos iPads temos no país. Estamos engatinhando no modelo de negócios digitais.’

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Jornalista da Reuters, Nova York