A ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria Especial de Promoção de Políticas de Igualdade Racial, destoa do discurso segundo o qual tudo no Brasil começou com este governo. Afirma que as políticas destinadas a reduzir as desigualdades raciais desdobram-se há vários governos, como resultado de uma pressão de movimentos da sociedade. Em relação ao debate cada vez mais intenso, Matilde Ribeiro saúda o fato de que ele hoje é público, o que não acontecia num passado ainda recente. E diz que isso lhe dá ânimo para enfrentar a oposição às propostas de ações afirmativas, uma constante nos mais importantes veículos de comunicação.
Eis trechos de uma entrevista que ela deu ao Observatório da Imprensa em 21 de fevereiro.
Qual é o balanço de três anos de governo Lula na área da integração racial? Neste ano, inevitavelmente, surgirá a crítica de que políticas de inclusão racial têm cunho eleitoreiro.
Matilde Ribeiro – Em três anos nós temos um balanço positivo. Não tínhamos esse organismo, a Seppir, não tínhamos diretrizes continuadas em torno da política de promoção da igualdade racial e hoje temos uma série de ações sendo realizadas com protagonismo do governo federal, mas vinculando-se a uma política federativa que leva em consideração a política de promoção da igualdade racial. Um exemplo que eu posso citar é que nós instituímos o Fórum Nacional de Promoção da Igualdade Racial, onde temos cerca de 400 organismos de 23 governos estaduais e governos municipais que estão em consonância com o trabalho que desenvolvemos no governo federal. Entre esses, 107 localidades com organismos similares à Seppir. É um salto imensurável na História. Além disso, ações como o Pro-Uni, que permitiu a entrada no ensino privado de mais de 100 mil estudantes oriundos de escola pública, entre esses 40 mil afro-descendentes. Temos ações no campo da saúde, do trabalho. Mudou a fotografia. E as possibilidades de ação na vida pública. E em breve [dentro de quinze dias] estaremos lançando o Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial, resultado de uma ação conjunta entre governo e sociedade civil, produto da Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, tudo isso como um resultado não apenas de ação de governo, mas visando também a transformação dessas questões em política de Estado. O saldo é bom, é bastante promissor, e 2006 é um ano de demonstração de resultados. Sabemos que esses resultados serão tão mais fortes quanto mais conseguirmos avançar no diálogo com a sociedade civil e demais organismos de governo. Longe de ser um agenda eleitoreira.
A senhora acha que o trabalho da mídia reflete toda essa ação, houve uma repercussão à altura desse esforço? A mídia está mais aberta ou está se enquistando em posições de resistência a algumas políticas? Há editoriais, tomadas de posição de grandes veículos sempre contra o Estatuto da Igualdade Racial, mas como a senhora avalia o noticiário?
M.R. – Outro dia eu tratava dessa questão num seminário aberto com jornalistas e pessoas formadoras de opinião. Achei bastante interessante o comentário de uma delas, que disse que nós não podemos esperar homogeneidade de posições, e que um grande trunfo deste momento que nós vivemos é que, diferentemente de outros tempos, outras décadas, o debate hoje é público. Isso nos estimula a pensar que devemos ser mais incisivos na ampliação do debate a partir de ótica do fortalecimento das ações afirmativas e das políticas inclusivas, do ponto de vista racial. Embora eu entenda que há muito por fazer, e que as posições contrárias são ainda bastante veementes, acho que estamos vivendo um momento bom, em que estamos podendo agir, dialogar com a sociedade civil, com todas as contrariedades que isso tem e demonstrar uma ação propositiva para hoje e para o futuro.
A senhora chegou a ser recebida por direções de veículos de comunicação?
M.R. – Sim. Na verdade acho que cabe da minha parte maior investimento nessa ação, que é importante. Mas fui recebida por diretores, por pessoas chaves na ação de vários veículos de comunicação importantes.
Ver também ‘Mídia privilegia choque de idéas sobre racismo‘.