Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Contra o diploma

O Observatório da Imprensa traz desde ontem diferentes manifestações de júbilo pelo restabelecimento da obrigatoriedade do diploma de jornalista para trabalhar na mídia. Peço licença para discordar. Sempre fui contra essa obrigatoriedade e me manifestei a respeito desde as primeiras edições deste Observatório da Imprensa. Por motivos práticos – constatei em diferentes redações de jornais que diploma não garante nada, enquanto jornalistas exercem o ofício com maestria e grande senso de responsabilidade sem diploma de jornalista, muitas vezes sem diploma nenhum – e motivos doutrinários: vejo aí uma dose concentrada de corporativismo, um dos males do país.


Numa tarde inesquecível dos anos 80, aceitei comparecer a um debate sobre o tema no auditório do Instituto Pinel, que é uma dependência da Universidade Federal do Rio de Janeiro na Praia Vermelha. Fiquei sozinho contra toda a platéia de estudantes ligados ao Sindicato dos Jornalistas. Fui acusado de estar “a serviço dos patrões”. Para me defender, tive que sacar do fundo do baú recursos de oratória das assembléias do movimento estudantil dos anos 60.


Puro nonsense. Eu ganhava tão pouco no jornal que todo mês calculava em dólares o salário líquido (era tempo de inflação voraz) e ficava acabrunhado. Acabei encarando uma segunda jornada de trabalho. No sábado de manhã, acordava, via o céu azul e chorava. Achava que era depressão. Era cansaço, mesmo.


Na saída do debate, naquela bela tarde carioca, vendo os hóspedes do Pinel que tomavam sol no pátio, pensei com meus botões: provavelmente o louco aqui sou eu. Louco por ter aceitado vir a esse debate. Mas não mudei de opinião. Sou contra a obrigatoriedade do diploma.