Os chamados biocombustíveis, produzidos a partir de fontes renováveis como a cana, a soja e o milho, podem fazer bem ao Planeta, à medida em que reduzem a queima de combustíveis fósseis (petróleo) e, consequentemente, o aquecimento da atmosfera. Esta aliás deverá ser uma das conclusões do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima, que sai nesta sexta-feira em Paris. Beleza, como diz a moçada. Temos que salvar o Planeta.
Mas enquanto a guerra da tortilla está nas páginas de Exterior, o efeito estufa sai em Ciências. Ou seja: ninguém relaciona uma coisa com a outra. O problema é que a chamada agroenergia faz mal ao bolso dos consumidores de alimentos.
México
O forte crescimento da demanda pelos biocombustíveis pressiona os preços de alimentos estratégicos como o milho e o açúcar e já provoca uma apimentada crise social no México, dividindo grandes produtores agrícolas e o povo. É que a disparada das cotações do milho fez dobrar o preço da tortilla, cardápio básico dos mexicanos.
Explosão de preços
Pequenos agricultores e os movimentos sociais mexicanos atribuem a inflação da tortilla à alta do milho no mercado internacional. Para eles,o uso da semente do milho para a produção de biocombustíveis é responsável pelo aumento.
Grandes redes de supermercados e companhias de alimentos também temem o efeito explosivo dos biocombustíveis. Á medida em que crescem os mercados de combustíveis feitos a partir de alimentos como o milho e a cana, sobem também os custos dos alimentos. Algumas companhias começam a alterar suas embalagens para reduzir seus custos.
Uma avaliação do Goldman Sachs estima que mais de 60% da terra arável da União Européia seria necessária para atender à demanda do setor de biocombustíveis, caso a região substitua 20% dos combustíveis fósseis usados em seus meios de transporte por biocombustíveis.
Nos Estados Unidos, a estimativa é a de se utilizar nesta safra 50,4% do milho para a produção de etanol.Haverá, portanto, uma disputa entre as indústrias de etanol e as indústrias de ração e de alimentos pela matéria-prima.
Álcool de palha
A saída é desenvolver etanol celulósico, que utiliza resíduos como palha de arroz e folhas das espigas de milho. Em 205, os EUA destinaram US$ 160 milhões para pesquisa e desenvolvimento deste tipo de biocombustível.O Departamento de Energia dos EUA está financiando pesquisas e novas para a conversão de biomassa em etanol.
Projetos desta natureza tem o apoio de republicanos e democratas. Bush destacou a importância do etanol no recente discurso do Estado da União. Reduzir a dependência do petróleo é a questão estratégica para um país que pretende isolar os árabes e Hugo Chavez. Por sua vez, o ex-vice presidente americano Al Gore, hoje um ecologista de carteirinha, acredita ser possível se produzir álcool pela metade do preço do petróleo. E mais: produzir o biocombustível com raízes, bagaços e folhas de plantas, evitando-se o uso de alimentos para se abastecer os automóveis.