O Observatório da Imprensa é a mais antiga iniciativa de observação global da mídia na América Latina. Todas as demais organizações do gênero surgiram no final dos anos 90 ou depois da virada do século, segundo revelou um levantamento feito pela pesquisadora peruana Rosa Maria Alfaro, criadora da Veeduria de Medios, em seu país. Esta década de experiência em matéria de análise crítica da imprensa permitiu uma acumulação de conhecimentos que agora começa a se mostrar importante na ajuda à formação de outros observatórios, como é o caso do recém criado Observatório Nacional de Medios (ONADEM), da Bolívia. O ONADEM buscou o apoio do Observatório da Imprensa, da Veeduria de Medios do Peru e de duas experiências espanholas: o Observatorio de Medios en la Internet e o grupo de pesquisas em observação da midia da Faculdade de Ciências da Comunicação, da Universidade Complutense, de Madri. Nossa principal preocupação ao transmitir conquistas e frustrações aos bolivianos foi enfatizar a necessidade de buscar credibilidade, o principal acervo que um observatório pode desenvolver. Nossa atividade ocorre num terreno minado onde sempre haverá veículos e profissionais que reagem negativamente às observações e comentários feitos a propósito de reportagens e notícias publicadas na imprensa. A experiência do nosso Observatório mostrou que a conquista da credibilidade é um esforço que toma tempo, mas que pode ser perdido em poucos minutos. Se esta vulnerabilidade permanente já era preocupante antes, ficou ainda mais crítica agora quando a internet é capaz de disseminar em segundos qualquer rumor ou informação. Nas reuniões em La Paz, realizadas no início de abril, foi possível transmitir aos amigos bolivianos a preocupação com o desenvolvimento de uma imagem institucional forte, baseada na independência, credibilidade e eficiência porque ela é o melhor antídoto contra inevitáveis críticas e insinuações usando informações fora de contexto. A mídia convencional é extremamente auto-suficiente e em alguns casos até arrogante, digerindo, com alguma dificuldade, as críticas e observações ao seu trabalho. Isto pode criar um ambiente desfavorável aos observatórios porque a grande imprensa tem muito mais presença e capacidade de criar agenda. Nos dois dias em que discutimos em detalhes as experiências dos quatro convidados pelo Observatório Nacional de Medios houve também uma troca de idéias sobre o uso de métodos quantitativos e qualitativos na observação dos meios de comunicação de massa. O observatório boliviano mostrou os resultados de duas experiências de monitoramento da imprensa e pediu a opinião dos convidados estrangeiros. O monitoramento quantitativo (medição de centimetragem, posicionamento, enfoque e tendência de noticias) permite uma fotografia ampliada da cobertura da imprensa sobre determinados temas, o que é extremamente útil em situações conflitivas porque usa números e reduz o efeito de polêmicas baseadas em percepções, mas tem um custo muito alto e exige financiamentos pesados. Nossa opinião foi de que o ideal seria um equilíbrio entre o uso de métodos quantitativos e qualitativos. A análise qualitativa, largamente usada ao longo dos 10 anos deste Observatório, não sacrifica orçamento da organização mas tem o inconveniente de gerar longas polêmicas. Tanto o ONADEM como os convidados estrangeiros chegaram à conclusão de que a troca de experiências e conhecimentos deveria ser ampliada para outros países. O Observatório da Imprensa foi mais longe e propôs a realização de uma reunião de nível latino-americano envolvendo organizações que trabalham com observação da mídia. Caro Leitor: Serão desconsiderados os comentários ofensivos, anônimos e os que contiverem endereços eletrônicos falsos.