Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornalista sueco critica charges

O jornalista sueco Mikael Löfgren informa de Estocolmo que a Dinamarca enfrenta problemas sérios de racismo. Opina que o editor do Jylland Posten “navegou em ondas racistas ao publicar as charges de Maomé”. Löfgren diz que é a favor da sátira na imprensa, mas que as caricaturas “não foram sátiras. Foram uma tentativa canhestra de zombar de um grupo que já era oprimido na sociedade dinamarquesa. Foi jornalismo invertebrado, de baixa qualidade”.


O jornalista sueco diz que as reações violentas em países de maioria islâmica são inaceitáveis, “mais uma prova de como determinados acontecimentos podem ser usados com finalidade política em nosso mundo midiatizado”.


Eis a tradução do depoimento (em inglês) que ele deu ao Observatório da Imprensa por correio eletrônico:


“As reações no mundo islâmico aos desenhos de Maomé foram um grande choque para o povo dinamarquês, que se vê – e isso acontece com todos os povos escandinavos – como especialmente bons e calorosos, amados e admirados no mundo inteiro. Na verdade, a Dinamarca tem um grande problema com o racismo, tanto que ele tem sido apontado e criticado pela União Européia.


O background junta de um lado um tipo de nacionalismo muito ligado ao solo: a Dinamarca ainda se vê como um país de fazendeiros. Isso é especialmente forte na Jylland, uma das ilhas que constituem o país. Ao mesmo tempo, a imigração para a Dinamarca é predominantemente tardia. A Dinamarca não teve – como a Suécia, por exemplo –, imigração de trabalhadores do Sul da Europa. A imigração de refugiados criou tensões e foi usada na propaganda da direita populista. O establishment político não tem sido firme, mas vem fazendo uso da retórica semi-racista.


Não há dúvida de que o editor do Jylland Posten navegou nessas ondas racistas quando publicou as charges. O que ele não podia prever, é claro, foi a feroz reação: em si mesma, uma espécie de efeito da globalização.


Penso que a maioria das pessoas não se ilude a respeito da retórica sobre liberdade de expressão que está sendo usada para defender a publicação das caricaturas. Minha opinião é que o editor tinha o direito de publicar os desenhos, mas foi mau gosto e falta de discernimento publicá-lo.


Quanto às reações violentas no Líbano e em outras partes, são evidentemente inaceitáveis, e simplesmente mais uma prova de como determinados acontecimentos podem ser usados com finalidade política em nosso mundo midiatizado. Não sou um homem religioso, e sou muito crítico em face dos fundamentalismos que surgem não apenas no mundo árabe mas também na Europa e nos Estados Unidos. Sou a favor da sátira e penso que as instituições religiosas e seus representantes devem ser investigados detalhadamente.


Mas as caricaturas de Maomé não foram sátiras. Foram uma tentativa canhestra de zombar de um grupo que já era oprimido na sociedade dinamarquesa. Foi jornalismo invertebrado, de baixa qualidade.”