Entrevista, disse uma vez um editor mal-humorado, é jornalismo preguiçoso. Repórter, explicava, tem mais é que ir atrás de fatos, não de palavras.
E o observador da imprensa Alberto Dines não se cansa de citar a expressão “jornalismo declaratório” para criticar o que entende ser o excesso de aspas nos periódicos brasileiros, como um pobre substituto para a cobertura dos acontecimentos baseada na obtenção de notícias originais e invisíveis a olho nu.
Mas em política, por exemplo, palavras podem ser fatos e criadores de outros – quando não servem para esconder, embromar e confundir. Bem que o frasista Ulysses Guimarães gostava de dizer que “política é saliva”.
E se este ano houve palavras ditas por um político brasileiro que continuam reverberando, de um forma ou de outra, meio ano depois de conhecerem a luz do dia, foram as do então deputado Roberto Jefferson que introduziram no já vasto léxico da corrupção o termo mensalão.
Jefferson deu duas longas entrevistas à editora da seção Painel da Folha de S.Paulo, Renata Lo Prete. A primeira, publicada em 6 de junho, caiu como uma bomba, para usar o gasto clichê, mas que nesse caso se aplica.
Depois de suas verdades, meias-verdades e mentiras, nem o PT, nem o governo Lula, nem o cenário eleitoral de 2006 continuaram a ser os mesmos.
Isso importa mais do que saber se foi a jornalista quem procurou o político ou vice-versa.
Eis por que, este ano, os jurados do Prêmio Esso – a principal láurea que um profissional da imprensa pode ambicionar no Brasil – não tiveram escolha. Na 50a edição do evento, consideraram o trabalho de Renata Lo Prete merecedor, entre 1.027 inscritos, do prêmio que leva o nome do seu patrocinador na categoria Jornalismo, a mais importante da competição.
De quebra, acertaram também ao dar o Prêmio Esso de Reportagem à equipe do jornal carioca Extra, liderada por Fábio Gusmão, pela série “Janela Indiscreta”, sobre a senhora aposentada que, meses a fio, ficou filmando do seu apartamento o comércio de drogas na favela em frente.
O Globo ficou com o Especial dos 50 anos com as reportagens “Vida Severina”, sobre as agruras dos migrantes nordestinos no Rio.
Premiações sempre dão briga, a exemplo do que aconteceu com o próprio Esso no ano passado. Mas não me parece que haja argumentos fortes para contestar qualquer dessas decisões.
No caso do prêmio de Jornalismo, pode-se abominar o agora cassado Roberto Jefferson. Mas não fosse a sua entrevista – e a competência da entrevistadora – os brasileiros não teriam tido a oportunidade de serem apresentados à dupla Valério-Delúbio e aos “recursos não contabilizados” do PT, o partido que dizia ser o único de mãos limpas na política nacional.
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