Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A primeira experiência com editoriais coletivos num jornal


O Los Angeles Times  acaba de embarcar numa audaciosa e polêmica expêriencia cujo objetivo é aumentar o interesse e a participação dos leitores nos editoriais do jornal californiano. O LA Times disponibilizou a partir do dia 17 de junho uma página baseada no software wiki  que dá às pessoas a possibilidade de acrescentar, alterar ou eliminar trechos de um texto escrito por outra pessoa.


É a primeira vez no mundo que este sistema é usado na produção de editoriais, e o tema inicial do LA Times não podia ser menos provocativo. O jornal lançou a discussão com um texto onde defendia a retirada americana do Iraque. No desenvolvimento do projeto, o LA Times publicará editoriais convencionais e seus leitores poderão reescrevê-los total ou parcialmente.


O sistema wiki foi usado com grande sucesso na Wikepédia, uma enciclopédia grátis escrita conjuntamente por centenas que pessoas. Ela tem hoje mais verbetes que a Enciclopédia Britânica e seu conteúdo não cessa de crescer. Um dos sinais do êxito do sistema de autoria compartilhada é que tanto no caso das ondas gigantes na Ásia como na eleição do papa Bento XVI, a Wikipédia foi mais ágil que os jornais na contextualização de ambos episódios.


Os especialistas na indústria de jornais e revistas estão céticos quanto aos resultados da experiência do LA Times. No caso da Wikipédia os colaboradores tem um objetivo em comum, produzir um verbete sobre um tema em evidência, enquanto no caso dos editoriais de um jornal dificilmente haverá consenso entre os leitores.


Na Wikipédia qualquer pessoa pode interferir na produção de um verbete. No LA Times para dar palpitar num editorial, o colaborador deve ser um assinante cadastrado na secção de editorias.


No obstante este limitação, o sistema que entrou em vigor na semana passada é uma revolução na rotina da indústria de jornais e revistas, porque a seção dos editoriais era até agora um territorio exclusivo do dono da empresa jornalística. Ao abrir a caixa preta dos editoriais para o público, o LA Times sinalizou uma mudança de filosofia editorial.


A opinião dos donos do jornal já não seria tão importante quanto a opinião dos leitores. Do ponto de vista prático, isto ainda é uma utopia, pois dificilmente o dono de um jornal deixará que os leitores tomem decisões que afetem os interesses da empresa. Mas como precedente, tem um valor histórico, porque tudo indica que, mesmo que a experiência do LA times fracasse, estamos caminhando para um sistema onde os leitores terão muito mais influência na definição dos objetivos de uma publicação.