Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornais impressos diante do desafio de mais uma reinvenção

Os mais nostálgicos se recordam, que há pouco mais de 40 anos, todos nós descobríamos pela manhã os fatos mais importantes do dia anterior. Era a época de ouro dos jornais, então nossa única grande fonte de informação, já que o rádio ainda era muito limitado e o telejornal Repórter Esso não passava de um programa radiofônico na TV.


 


Nas últimas quatro décadas o espaço entre nós e a notícia foi encurtando de forma frenética, a ponto de hoje podermos saber de quase tudo, no mínimo 24 horas antes de sair publicado em algum jornal.


 


Esta radical mudança de hábitos tornou-se o tema do momento entre jornalistas quando grandes publicações são vendidas, como foi o caso do The Wall Street Journal; algumas encolheram de tamanho como o The New York Times; outras passam por um doloroso processo de haraquiri corporativo, como o outrora poderoso grupo Tribune, dos Estados Unidos.


 


Cada vez que uma grande mudança sacode o universo da imprensa, alguém faz de novo a velha pergunta: É o fim dos jornais? Até agora a grande preocupação era encontrar uma resposta, mas hoje o fato de alguém levantar a questão soa como um chamado ao combate,  como se o destino da imprensa estivesse para ser decidido num guerra nas bancas de jornais.


 


Foi neste contexto que Jack Shafer, da revista online Slate, um defensor da sobrevivência dos jornais, propôs que eles abandonem a obsessão pela grande manchete de primeira página e passem a se preocupar mais com as páginas internas, ou seja, com os assuntos mais próximos das pessoas.


 


Shafer acha que os jornais, ao priorizar as chamadas hard news, valorizam justamente aquilo que não atrai mais os leitores porque eles se atualizam por outros canais de informação, principalmente pela televisão e pela internet. Tanto que nos Estados Unidos, os programas de entrevistas já não usam mais os jornais como referência, mas sim a internet, em especial os weblogs.


 


Shafer minimiza a idéia que os jornais estão morrendo. “Na verdade eles estão morrendo desde 1920, quando surgiu a radio AM,FM, a televisão, o vídeo cassete, os CD-Roms, os DVDs e agora a internet. Mas em vez de desaparecer, eles acabam se reinventando”.


 


Ele cita um estudo feito por um colega seu, William Powers, intitulado Porque os Jornais São Eternos no qual ele advoga a necessidade dos jornais impressos passarem a ser um guia de leitura e de aprofundamento contextualizado de noticias do que um canal para levar novidades até as pessoas.


 


O paper de Powers afirma que a “fuga de leitores dos jornais não é um sintoma de rejeição do veículo e sim uma forma de protestar contra o fato dele insistir em publicar hard news que a televisão e a internet já exploraram a exaustão”.


 


A partir da leitura do texto de Powers fica fácil perceber que a melhor estratégia para mais uma reinvenção dos jornais impressos passa pelo reconhecimento da superioridade da internet em matéria de rapidez, diversidade e feedback na transmissão de notícias.


 


Em todo este debate também é essencial distinguir o veículo jornal das empresas jornalísticas. O veículo jornal não vai desaparecer porque as pessoas sempre necessitarão ler algo no papel, tanto faz se ele for o atual ou o provável papel eletrônico do futuro. Os jornais enfrentam o desafio de reinventar mais uma vez a sua formatação e sua inserção do processo da comunicação.


 


Já a sobrevivência das empresas depende da agilidade em entender o que está acontecendo, perceber as mudanças no contexto informativo e adaptar-se a elas. As que não conseguirem isto, vão desaparecer como tantas outras. Muitas dissimulam a sua resistência à mudança, tentando identificar-se com o próprio veículo jornal.