O Jornal Nacional – que até agora não colocou em seu site o texto da reportagem a favor da transposição do Rio São Francisco, exibida na sexta-feira passada – conseguiu hoje respirar com uma reportagem em que várias pessoas sensatamente condenam a forma de protesto do bispo Dom Luiz Flávio Cappio.
Eis alguns trechos:
“A greve de fome do bispo dom Luiz Cáppio atraiu até peregrinos. Mas também muitas críticas. A Constituição Brasileira não diz nem que é permitido, nem que é proibido. A greve de fome, como a do bispo Luís Flávio Cappio, não está na lei. (….) Mas pôr a vida em risco é atitude extrema, diz o coordenador da Comissão de Direitos Humanos da OAB de São Paulo. Ele acha que o bispo preferiu chamar à atenção da opinião pública com jejum voluntário, mas poderia ter usado o caminho da Justiça.
– Pode não ter a velocidade desejada e pode não dar a resposta que aquele que está neste contexto de greve de fome pretende. Mas há mecanismos jurídicos, ações, ação civil pública ou outros mecanismos conforme o caso poderiam ser utilizados para soluções de hipóteses como esta – diz Fábio Canton Filho, coordenador da Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP.
(….)
O professor de filosofia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Alípio Casali aprovou a decisão do governo de dialogar com o bispo. Mas o professor considera que a greve de fome foi uma decisão radical, sem justificativa, porque o projeto foi discutido e aprovado pelo Congresso Nacional.
– Nós vivemos num estado de direito pleno, as instituições estão funcionando, né? A organização social está em funcionamento. Os procedimentos institucionais estão regulares, não temos um estado de exceção e numa situação como essa, incomoda uma ação extrema, um posicionamento extremo como esse até pelo poder simbólico que ele pode alcançar no resto do país e gera uma preocupação a cerca do futuro – aponta o filósofo e professor da PUC.
Em nota, o secretário-geral da CNBB, dom Odilo Pedro Scherer, afirmou hoje que a greve de fome até a morte é moralmente inaceitável, porque ninguém <<é senhor da própria vida>>.
Os bispos de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte declaram que o protesto de dom Luiz Cáppio é uma atitude extrema, que provoca perplexidade e sofrimento entre os bispos”.
A Globo reconheceu também que “pelo menos um objetivo o bispo já conseguiu alcançar. Em dez dias, a greve de fome do Frei Cappio chamou a atenção do país para a discussão do projeto de transposição do Rio São Francisco”.
Infelizmente, esse atributo do protesto do bispo não se aplica ao principal veículo de comunicação do país, a própria Globo, que ao abordar o tema apresentou a obra como fato consumado e deu pouca voz aos críticos do projeto. Principalmente não explicou direito a natureza das objeções.