Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mídia e cocaína

Luiz Garcia escreve hoje no Globo que vinte anos atrás ninguém hesitaria em freqüentar um restaurante ou uma pizzaria engordados com dinheiro do tráfico de drogas. Mas, diz Garcia, há agora no Rio de Janeiro uma restrição, em nome do comportamento culinariamente correto, ao Satyricon e à Capricciosa, cujos sócios são acusados de pertencer à quadrilha atingida na Operação Caravelas, a da cocaína no bucho de boi. Ou a que acabou fornecendo fundos para outra quadrilha, a que assaltou a Polícia Federal.


Garcia argumenta:


“Consumir cocaína ou desprezá-la era decisão baseada unicamente na opinião do interessado sobre se fazia mal à sua saúde ou não. A conclusão mais comum era de que, não exagerando, que mal que tinha? Pensava-se assim aqui — e na Europa e nos Estados Unidos também.


Hoje, a consciência social se tornou mais aguda: não se trata mais de <>. Porque não está em questão apenas a saúde de cada um e sim a da sociedade toda — o consumo faz mal em quaisquer circunstâncias: corrompe a juventude e aumenta exponencialmente o índice de violência urbana.


Não há discussão: as provas se acumularam e são irrespondíveis. Se você cheira, não apenas financia a disseminação de um vício degradante: também contribui para o fortalecimento dos arsenais de inimigos mortais de uma comunidade que se propõe ser pacífica e segura. O viciado ajuda a comprar e municiar a arma que poderá, pouco mais adiante, privá-lo de seus bens e, se o bandido estiver suficientemente drogado, da sua vida”.


Certo, certíssimo. Só faltou dizer que também nas redações dos veículos de comunicação o uso de cocaína era visto com total condescendência.