Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Sem questionar conseqüências, imprensa atende a lobby de escritórios de advocacia


Os grandes escritórios de advocacia estão em lobby contra as operações de apreensão e busca da Polícia Federal em suas instalações – todas autorizadas pela Justiça – e ocupam espaço crescente na mídia usando dois argumentos centrais. Um, já adotado como bandeira por vários jornais, é o de que as ações recentes da Polícia Federal têm publicidade exageradamente perigosa para as instituições. Outra, com mau agouro que afeta a liberdade de imprensa. A nota da revista Istoé desta semana, na seção A Semana, sob o título ‘O vale-tudo da PF vai acabar’, reproduz o mesmo teor dos protestos de representantes de advogados e grandes escritórios de advocacia veiculados na semana passada.


‘Estão com os dias contados a festa e a pirotecnia da Polícia Federal vasculhando escritórios de advocacia – e apreendendo pastas e computadores com dados sigilosos dos clientes’, prevê a revista, dando como líquido e certo que vão terminar as apreensões de documentos comprometedores. O mau presságio recebeu maior destaque do que o próprio título da reportagem. ‘Se não houver um basta na ação da Polícia Federal, hoje são os escritórios de advocacia que são invadidos, amanhã serão as redações dos órgãos de imprensa’. Quem diz é o advogado criminalista Antônio Mariz de Oliveira, ex-secretário da Justiça e da Segurança Pública de São Paulo (governo Orestes Quércia) e defensor de vários casos de repercussão, como o do ex-caixa do ex-presidente Fernando Collor, Paulo César Farias; do jornalista Antônio Marcos Pimenta Neves, que assassinou a colega Sandra Gomide; do juiz federal Ali Mazloum, preso durante a Operação Anaconda; e, mais recentemente de Edson Cholbi Nascimento, o Edinho, filho de Pelé, e dos donos da Schincariol, soltos na madrugada do último sábado.


O lobby dos grandes escritórios tem tudo para prosperar na imprensa. Os grandes escritórios se queixam de que faltam regras para normatizar as buscas. Dizem que o Poder Judiciário expede mandados de busca e apreensão genéricos e sem critério e que a Polícia Federal repete o erro ao cumprir o que está escrito. A imprensa, até o momento, apenas abriu as portas para o lobby e passa longe de qualquer questionamento sobre a inviolabilidade territorial pretendida pelos grandes escritórios. Tampouco publica qualquer sugestão dos notáveis causídicos sobre o que pode ser feito para neutralizar a brutalidade que dizem ser vitimas.


O problema aguarda solução do ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, de quem se espera articulação e criação de normas que regulamentem os mandados e a ação policial determinada por eles. Até o momento, a imprensa não procurou saber o quê o lobby tem a propor contra a possibilidade da inviolabilidade de território pretendida ser usada como esconderijo de advogados desonestos.