Durante décadas, soldados vigiaram o prédio da União de Rádio e Televisão egípcia no Cairo, aparentemente para proteger a formidável rede do país de uma tentativa de revolução. Mas a renúncia de Hosni Mubarak mostrou que o poder dos sites de mídia social e a tecnologia de telefonia móvel provaram ser uma ameaça muito maior para o ex-presidente egípcio.
Com os protestos se propagando da Tunísia e do Egito para Bahrein, Iêmen, Argélia e Líbia, a ideia contagiosa de uma ‘Revolução Twitter’ ou ‘Revolução Facebook ‘ está sendo debatida. Qual a importância da mídia social nesses levantes? Ela é tudo que você precisa para derrubar um regime entrincheirado? Para o executivo do Google Wael Ghonim, de 30 anos, um dos heróis da Praça Tahrir, a revolução começou no Facebook.
– Começou em junho de 2010, quando centenas de milhares de egípcios começaram a colaborar com o conteúdo – disse ele à CNN em 11 de fevereiro. Se quiser libertar uma sociedade, basta dar-lhes a Internet.
Ghonim era o administrador anônimo de uma página no Facebook chamada ‘Todos somos Khaled’, um homem de 28 anos mortalmente agredido pela polícia depois de ter publicado vídeos online do grupo dividindo contrabando. Quando os protestos no Egito começaram, Ghonim foi preso. Depois de libertado, foi saudado como um herói.
Em dezembro passado num evento do Google no Cairo, ele disse que mais de cem milhões de árabes – de 351 milhões em toda a região – esperam estar usando a internet em 2015.
Convergência de mídias
Mas o Facebook e o YouTube são ferramentas, e elas por si só não trazem as mudanças que o mundo tem testemunhado. Profundas mazelas sociais – a repressão das frustrações políticas e econômicas – estão no centro dos protestos. O êxito de revoluções pacíficas no mundo árabe está começando a mudar a percepção da região da determinação de seus cidadãos de buscar a democracia em seus próprios termos.
Portanto, não se deve confundir as ferramentas com as motivações. Pensar neste momento como uma ‘Revolução Facebook’ apenas diminui os desafios que os manifestantes e as populações estão superando.
Com amplos segmentos das populações árabes desempregados, marginalizados e se sentindo impotentes para mudar o seu futuro sob regimes autoritários, todos os elementos para a revolta estavam lá. Os meios de comunicação social ajudaram a tornar as queixas mais urgentes e difíceis de ignorar.
Ironicamente, o Facebook, que, segundo o Relatório Mídia Social Árabe, tem uma base de mais de 21 milhões de pessoas no Oriente Médio é uma plataforma não muito amigável para protestar. Suas mensagens e as atualizações são divulgadas apenas para aqueles que pertencem a determinados grupos.
Já o Twitter permite alcançar um público mundial através do uso de hashtags (tags em tweet) como as que definiram as revoluções – #Tunisie, #Sidibouzid e #Jan25.
Mas também a mídia tradicional teve papel importante. Canais via satélite árabes transmitiram a cobertura quase ininterrupta dos protestos, contando com as parabólicas onipresente em toda a região. A convergência de mídias social e tradicional mostrou ser essencial para difundir mensagens. Em entrevista à Rádio França Internacional, Sami Ben Gharbia, co-fundador do blog Nawaat, disse que essa foi a caixa de ressonância na luta na rua.
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Autor de Social Media in the Arab World: Leading up to the Uprisings of2011 ; especial para o Washington Post