Toda hora, ou quase, a mídia dá motivo para se condená-la por acusar aos berros e se retratar aos sussurros.
Nesse sentido, o modo como a Folha tratou o caso do padre Júlio Lancelotti merecia ser ensinado nas escolas de jornalismo – como um exemplo a não se imitar.
No domingo, 28 de outubro, o jornal deu na primeira página:
“Ex-interno diz que fazia sexo por dinheiro com padre” [ver aqui].
Na quinta-feira, 8 de novembro, a mesma Folha – mas nunca, jamais, onde já se viu, na primeira página – noticiou a conclusão da polícia de que “padre Júlio sofreu extorsão”.
A omissão, contrastando constrangedoramente com a apelação anterior, foi registrada neste blog [ver aqui].
Para explicar a disparidade de tratamento, o jornal poderia alegar, forçando a barra, que a conclusão policial não seria necessariamente o fecho do caso, apenas uma etapa no processo de esclarecimento dos fatos. Afinal, informava a matéria, “o inquérito será analisado pelo juiz Júlio Caio Farto Sales”, que “poderá pedir novas investigações, caso considere as provas insuficientes’.
Hoje, reincidente, alegaria o quê? Em oito linhas praticamente caíndo de uma página interna do caderno Cotidiano, o jornal dá que “o Ministério Público de São Paulo considerou o padre Júlio Lancelotti vítima de extorsão” e que “a condenação deve sair na semana que vem”.
Fácil imaginar o que a Folha faria se o Ministério Público considerasse que não houve extorsão nenhuma na história – e que o religioso, como o jornal proclamou naquele domingo de outubro, o dia em que mais vende, de fato pagava por sexo com um ex-interno, segundo acusação deste.
E a azeitona nessa empada podre é que a notícia de hoje na Folha chegou atrasada: as conclusões do Ministério Público já estavam ontem no Estado.