Ontem foi o Globo, hoje o Correio Braziliense, a não deixar barato o primeiro aniversário da irrupção do escândalo da máfia das ambulãncias superfaturadas. Nenhum dos deputados mafiosos foi punido pelo exangüe Conselho de Ética da Câmara.
Por isso, muitos deles agem como se estivessem prontos para (re)inaugurar os seus hemocentros, ou estabelecimentos equivalentes, demonstra o Globo. E o vampirismo, aponta o Correio, continua a cravar os caninos em tudo que é jugular.
A imprensa, pelo menos, faz a sua parte ao botar a boca no mundo.
O primeiro dos dois textos do Globo a respeito tem por título ‘Sanguessugas permanecem na vida pública’. Lá vai:
O escândalo dos sanguessugas faz um ano na próxima semana, dia 4 de maio, mas, para boa parte dos 69 ex-deputados atingidos pelas denúncias de negociação de recursos para a compra de ambulâncias superfaturadas em troca de comissões, o tempo não parece ter passado. Pelo menos 23 deles, mesmo sem mandato, estão na vida pública e atuam a todo vapor, seja no círculo político-partidário ou nos corredores do Congresso e dos ministérios em Brasília .
Apesar de apenas cinco deputados terem sido reeleitos, 13 ex-parlamentares citados pela CPI dos Sanguessugas presidem os diretórios de seus partidos nos estados. Pelo menos outros sete ex-parlamentares citados pela CPI, mesmo sem mandato, estão sempre em Brasília e até ajudam na liberação de recursos para suas regiões.
Dos 44 sanguessugas que disputaram a eleição ano passado, embora a maioria não tenha sido reeleita, sete podem voltar ao Congresso. Eles ocupam a primeira suplência de suas coligações e têm chances de assumir o mandato na Câmara em 2008, quando ocorrerão eleições municipais. Se algum deles vier a assumir, estará livre do risco de ter o processo reaberto na Câmara.
E este é o segundo, intitulado ‘Lobby até nos corredores do ministério’:
Os envolvidos no escândalo dos sanguessugas, que não se reelegeram, continuam levando vida como se ainda fossem parlamentares e tentam, por exemplo, usar sua influência para liberar recursos para suas bases. É o caso de João Grandão (PT-MS). O lobby do petista em favor de sua cidade, Dourados, é registrado na página oficial da prefeitura do município. Grandão foi a Brasília na última terça-feira, onde esteve no Ministério das Cidades para pedir a liberação de recursos destinados a obras de asfaltamento, além de R$ 1,3 milhão para construção de escolas indígenas no estado. O prefeito de Dourados, Laerte Tetila, é do PT.
A repercussão do escândalo atingiu em cheio o destino político dos 69 deputados citados pela CPI dos Sanguessugas; dois renunciaram ao mandato, 23 desistiram de concorrer e 44 foram candidatos à reeleição, mas apenas cinco tiveram sucesso.
O ex-deputado Cleuber Carneiro (PTB-MG) esteve na Câmara semana passada, onde sempre é visto nos corredores. Por conta da denúncia, ele não se reelegeu e ficou apenas na sexta suplência da sua coligação partidária. Abordado pelo Globo, Carneiro — que se definiu como um “grão de areia num Saara de corrupção” — foi evasivo: ‘Por favor, me deixa fora disso. Estou machucado. Tenho 34 anos de vida pública, não quero mexer mais com isso’, disse Carneiro, que é empresário e fazendeiro. Outro que é visto com freqüência no Congresso é o ex-deputado Lino Rossi (PP-MT), que sequer tentou a reeleição.
O ex-deputado João Caldas (PR-AL), que não concorreu à reeleição, preside o partido em Alagoas, mas não sai de Brasília, onde freqüenta o gabinete da Liderança do PR. Caldas disse na quinta-feira que não decidiu se abandona a vida pública. A CPI o acusou de receber R$ 136 mil do esquema dos Vedoin. Ele nega.
Por falta de tempo, seu processo não foi julgado no conselho, mas o relator do caso, José Eduardo Cardozo (PT-SP), apresentou parecer no qual concluía que havia elementos suficientes para cassar seu mandato.
Já o essencial da matéria do Correio, ‘Quadrilhas sugam dinheiro de municípios’, destacada hoje no Blog do Noblat, está neste parágrafo:
Auditorias realizadas pelo Tribunal de Contas da União em 21 municípios brasileiros apontam a existência de quadrilhas locais e regionais especializadas em fraudar contratos e desviar dinheiro público destinado a obras diversas e a execução de convênios com 10 ministérios para investimentos em saúde, educação, habitação, infra-estrutura e saneamento. As investigações mostram que o esquema dos sanguessugas para desviar as verbas para ambulâncias não foi um crime isolado. Além da existência de obras que não servem à comunidade, técnicos do TCU apuraram que as licitações funcionam como “peças de ficção” montadas para beneficiar empresas, grupos e famílias que fazem parte das organizações criminosas.
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