Se você é notícia, pode-se ver numa situação em que mostrar cara feia para a imprensa faz a notícia ficar mais quente.
A insatisfação pode até ser sincera. Muitas vezes, no entanto, exibi-la ou escondê-la não é uma reação espontânea, mas o produto de um cálculo: qual das alternativas será a mais conveniente para os interesses do insatisfeito?
O Estado de hoje traz três casos cujos personagens ou não contiveram o mau humor com o noticiário, ou o ostentaram de propósito – para fazer praça de suas posições, possivelmente.
Página A10, primeira coluna:
“[…]Fernando Henrique e Alckmin ficaram irritados com a polêmica em torno da ausência do governador [José Serra] na campanha do PSDB. ‘Essa pergunta não cabe’, reagiu o ex-presidente. ‘Deixa o governador trabalhar’, disse Alckmin.”
Página A10, segunda coluna:
“[…]Após ser questionado por um repórter de um site sobre como iria participar da campanha de reeleição do prefeito Gilberto Kassab, o governador ficou irritado e acusou a imprensa de fazer ‘fofoca’.”
Página A13, sexta coluna:
“Este [a Lei da Anistia e os torturadores] é um assunto passado. O passado já passou”, afirmou [Nelson] Jobim, demonstrando irritação. Para o ministro [da Defesa], a sua discussão pública é uma ‘falsa polêmica criada pela imprensa’.”
Falsa é a alegação. Já as perguntas que irritaram os desafinados tucanos de São Paulo são absolutamente procedentes.
Não foi a imprensa que inventou a umbigada que Jobim deu em Tarso. Muito menos o rolo em que se meteu o PSDB desde que Serra quis emplacar no partido a candidatura à reeleição do seu ex-vice na prefeitura.
Agora, se você que é político precisa tapar o sol com a peneira – o ossão do seu ofício -, talvez imagine que, dando um show de contrariedade que a imprensa não pode deixar de registrar, ao menos plantará uma dúvida na cabeça do leitor.
Como se ele não tivesse a mais remota idéia das verdades desconfortáveis para os que as querem negar, apelando para a ira dos justos.