Acéfala, dividida e ensanguentada por uma guerra civil, a Líbia é, ao mesmo tempo, um paraíso para o repórter de campo e um inferno para o analista. O estoque de relatos sobre os acontecimentos locais é infindável, mas falta uma costura contínua desta avalanche de dramáticos fragmentos.
À hora em que estas observações estão sendo feitas (0h de segunda-feira, 28/2), é possível montar desdobramentos em todas as direções. A saber:
a) fortalecimento do Conselho Nacional transitório reunindo todas as forças anti-Kadafi;
b) ação internacional por meio da Liga Árabe e outros organismos internacionais; e
c) resistência do tirano líbio com um banho de sangue em Trípoli.
Rara unanimidade
Qual desses cenários deverá prevalecer?
As novas tecnologias não fazem milagres, não fabricam bolas de cristal. As redes sociais são ferramentas para a difusão de informações – como constata na Veja desta semana o presidente do Google – e ferramentas servem para trabalhar a matéria-prima recebida, não inventam conteúdos, são incapazes de analisar, hierarquizar e produzir tendências.
Com tantas maquinetas no mercado prometendo mil facilidades, ainda não apareceu uma alternativa aos atributos do venerando e insubstituível jornalismo: presença, rapidez, conhecimento.
Exemplo: dos grandes veículos, apenas a Folha de S.Paulo conseguiu oferecer na edição principal do domingo uma razoável soma de informações e análises sobre a condenação unânime da Líbia no Conselho de Segurança da ONU, ocorrida na véspera.
A raríssima unanimidade foi certamente orquestrada pela atual presidente do conselho, a representante do Brasil na ONU, embaixadora Maria Luiza Viotti, e indica uma virada de 180 graus nas posturas e doutrinas do Itamarati.
Com manchetes apenas é impossível satisfazer a curiosidade e as reais necessidades do leitor.