Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

A qualidade do jornal vai sobreviver?

Para muitos críticos e leitores, o Washington Post tem uma reputação de excelência jornalística. Mas ela vai durar? A questão foi levantada pelo ombudsman Andrew Alexander em sua última coluna no cargo. Durante os dois anos em que exerceu a tarefa de representante dos leitores, um tema dominante, diz ele, foi a queda da qualidade jornalística do Post.

Na opinião de Alexander, o Post nos seus piores dias é melhor do que a maior parte dos jornais nos seus melhores dias. Nas versões impressa e online, o diário desempenha influência sobre o discurso público e produz grandes reportagens. No entanto, erros gramaticais, de digitação e pequenos lapsos factuais acabam afetando sua credibilidade. As correções demoram a ser feitas. A cobertura local, que já foi robusta, diminuiu. O uso excessivo de fontes anônimas foi expandido para os blogs.

Muito disso se deve aos cortes necessários de custos. Ao longo dos últimos anos, as equipes das versões impressa e online se uniram. A tradicional estrutura da redação foi reconfigurada. Novos editores foram contratados. A perda de talentos na redação, por meio de demissões voluntárias, foi grande. Alguns dos jornalistas mais respeitados do jornal saíram, junto com conhecimento institucional e liderança – o que é fundamental em um período de mudanças.

Jornalismo responsável

O Post irá continuar a enfrentar grandes desafios. A queda na circulação pode ser diminuída, mas não interrompida. Os lucros online crescem, mas ainda permanecem menores que os do impresso. O pagamento de assinaturas para aparelhos móveis irá ajudar, mas, a curto prazo, não gerará renda suficiente para manter o mesmo tamanho da redação. Tudo isso afeta o jornalismo. O Post está tentando preservar um produto impresso agonizante, enquanto constroi um novo digital. No processo, padrões e práticas vêm sendo testados e dilemas éticos enfrentados.

Durante o tempo em que permaneceu no cargo, Alexander nunca questionou, no entanto, o compromisso do jornal com o jornalismo responsável. Todos os sábados, o diário abre espaço para reclamações e comentários de leitores sobre seu desempenho jornalístico. No dia seguinte, a coluna do ombudsman oferece mais críticas. A qualidade vai sobreviver, mas depende dos que estão na redação e, também, dos leitores. O novo ombudsman, a ser nomeado em breve, deve servir como o mais forte representante dos leitores e fazer com que os membros da redação não esqueçam de seu público e dos padrões de qualidade do jornalismo.