Ponto para a Veja, que publica nesta semana reportagem-bomba sobre o caso McDonald´s/Receita Federal, e puxão de orelha em todos os veículos que cochilaram e deixaram passar esse “frango” por baixo das pernas. O troféu da leseira vai para o Jornal do Brasil, que falou do assunto, com todos os efes e erres, no mesmo dia em que a notícia foi publicada no site da Procuradoria da República no Distrito Federal (PRDF), faz mais de seis meses. O noticiário da PRDF começava assim:
‘O Ministério Público Federal ingressou com Ação Civil Pública por Atos de Improbidade Administrativa, hoje (31/5), na Justiça Federal, em Brasília, contra o ex-secretário da Receita Federal, Everardo de Almeida Maciel, o ex-secretário adjunto da Receita Federal, Paulo Baltazar Carneiro, os servidores públicos da Receita Federal Sandro Martins Lima e Regina Maria Fernandes Barroso, a empresa McDonald´s e seus representantes legais no país, além do representante da empresa de consultoria RPN, Jone Perdigão Nogueira.
Investigações dos procuradores da República Lauro Pinto Cardoso Neto e Valquíria O. Quixadá Nunes constataram esquema para livrar a empresa McDonald´s do pagamento de multa no valor de R$ 78.667.802,18, relativo ao imposto de renda de pessoa jurídica, por ter deixado de considerar como lucro os valores dos royalties pagos excedentes de 1% de sua renda. As autuações ocorreram nos anos de 2000 e 2001”.
(Para ver a nota completa.)
A nota do JB, ‘Sanduíche indigesto‘, publicada no Informe DF, praticamente repetia o lead e, da parte seguinte da nota da PRDF, extraía o valor atribuído à suposta maracutaia.
Tanta bobeira deve ter sido causada pela intoxicação de notícias de corrupção provocada pelo escândalo do “mensalão”. Por falar em “mensalão”, o mesmo JB foi o primeiro a noticiá-lo, em setembro de 2004, mas recuou – como toda a mídia – depois de ter sido obrigado, pelo então presidente da Câmara dos Deputados, a publicar um desmentido.
Na reportagem da Veja, o fato novo teria ocorrido em setembro, quando “o McDonald´s, parecendo decidido a revelar tudo, entregou documentos devastadores”.
Em 29 de junho, a IstoÉ Dinheiro havia publicado nota a respeito da demissão do então presidente do McDonald´s no Brasil, Marcel Fleischmann, e mais dois executivos. E explicava: “Eles são os únicos funcionários da empresa citados nominalmente em uma ação movida pelo Ministério Público Federal. O documento fala de um suposto esquema pelo qual a rede teria pagado, em 2002, R$ 4,45 milhões a um escritório de lobby de Brasília para conseguir aprovação da Receita Federal para recolher menos Imposto de Renda. A rede confirmou as demissões, mas não quis comentar a decisão”. Fica com o segundo lugar no concurso de leseira.
Os mais céticos em relação ao trabalho da imprensa dirão que o lapso não ocorreu por incompetência, mas para proteger Everardo Maciel e os demais funcionários da Receita envolvidos. Um deles, Sandro Martins, diz a Veja, conservou a função de assessor especial quando o secretário da Receita passou a ser Jorge Rachid, no governo Lula, mas foi rebaixado há dois anos, após o início de investigações da Corregedoria da própria Receita. Everardo Maciel foi ouvido pela Veja e se disse totalmente alheio à história.